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Campus Party: criar cidades inteligentes ainda é desafio para o Brasil

Além de expansão da conectividade, país precisa de ambiente para
Ana Elisa Santana - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 15/06/2017 - 16:59
Brasília
Brasília - Profissionais e entusiastas da tecnologia participam da Campus Party, em Brasília (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
© Marcelo Camargo/Agência Brasil
Brasília - Profissionais e entusiastas da tecnologia participam da Campus Party, em Brasília (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Profissionais e entusiastas da tecnologia participam da Campus Party, em Brasília Marcelo Camargo/Agência Brasil

Ferramentas utilizadas pela sociedade para a comunicação, transporte, entretenimento e diversas outras atividades cotidianas têm se transformado rapidamente e hoje, com a ampliação dos serviços oferecidos por plataformas web e aplicativos, são muito diferentes do que eram há 10 ou 15 anos.

Segundo o pesquisador do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) de Campinas Vinícius Garcia, por causa da influência da tecnologia, o mundo passa atualmente pela “terceira onda de transformação social”. Na primeira “onda”, houve a expansão em nível comercial das tecnologias, com o acesso gradativo a computadores, equipamentos digitais e à internet. Depois, com a chegada da tecnologia móvel (mobile), os cidadãos passaram a ter maior participação e protagonismo nas atividades tecnológicas. Agora, segundo Garcia, a internet das coisas se expande e é a vez dos objetos serem inseridos nesse contexto. Esses temas são foco de debates da primeira edição da Campus Party Brasília, que acontece até sábado (17) na capital.

De acordo com o pesquisador, a implantação da internet das coisas é fundamental para alcançar cidades inteligentes e humanas – conceito em que as localidades são digitalizadas não só pela instalação de tecnologias, mas pela integração de dados e informações em um sistema único. Esse cenário muda a percepção de paradigmas e a forma como são vistas as relações de trabalho, por exemplo. De acordo com o presidente da Rede Brasileira de Cidades Inteligentes e Humanas (CIH), André Gomyde, a mais-valia gradativamente sai de cena para dar lugar à operação por máquinas em diversos serviços, o que traz novos desafios. “Cada vez menos teremos trabalho braçal e intelectual. Começamos a viver uma Era do Conhecimento, que passa a ser o grande capital. Este será o paradigma pelo qual teremos que lutar.”

Enquanto atualmente a propriedade de dados e das tecnologias da informação se concentra nas mãos das grandes empresas, a perspectiva do desenvolvimento de cidades inteligentes busca ampliar esse tipo de informação também para a sociedade, segundo Gomyde. “Nas cidades inteligentes e humanas nós vamos conseguir ser proprietários do conhecimento”, afirma.

No Brasil, desenvolver cidades inteligentes ainda é um desafio pela falta de experiências em grande escala. De acordo com o pesquisador Vinicius Garcia, alguns problemas das cidades já têm soluções desenvolvidas, mas não se encontram. Para ele, é necessário um macroambiente de implantação dessas experiências. “Precisamos da união de evolução tecnológica, políticas públicas, maturidade de mercado e comportamento social [abertura da sociedade] compatíveis”, explica.

Políticas Públicas

Para o deputado Vitor Lippi (PSDB-SP), criador da Frente Parlamentar Mista em Apoio às Cidades Inteligentes e Humanas, a busca por soluções para as cidades por meio de tecnologias e sistemas de informação integrados precisa de políticas públicas que, no Brasil, ainda engatinham. “Estamos muito atrasados e precisamos nos adequar. Temos que conectar as pessoas, por isso precisamos pensar como ampliar a banda larga no Brasil. Hoje, só 50% dos brasileiros a têm em casa”, ponderou.

Além do aumento da conectividade para a participação social, o processo para a criação de cidades inteligentes demanda a criação de planos de ação de médio e longo prazo. O grupo de trabalho do Congresso tem o objetivo de construir agendas para arrecadar contribuições, pesquisar exemplos do mundo e fazer fóruns para o debate com a sociedade.

Segundo Lippi, um dos caminhos é um acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para desonerar e diminuir a burocracia para implantação de sensores e equipamentos necessários para trabalho integrado dessas cidades. Hoje, segundo o deputado, o desenvolvimento está diretamente relacionado à capacidade de comunicação. “A tecnologia da informação é estruturante para o desenvolvimento social”. Outra frente de trabalho é a criação do Plano Nacional de Internet das Coisas, que visa aproveitar janelas de oportunidades atuais e futuras para colocar o Brasil como produtor dessa tecnologia.

Experiências para implementação das cidades inteligentes têm sido feitas em diversos municípios do país, segundo o diretor de Inclusão Digital do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Américo Bernardes. Segundo ele, as comunidades precisam se apropriar da tecnologia em vez de serem meras usuárias. “Elas são fundamentais nas decisões a respeito das necessidades.”

Atualmente, o programa Cidades Digitais do ministério existe em 75 cidades, onde estão à disposição aplicativos de uso gratuito como o e-SIC, para agendamento de serviços da saúde ou de compromissos das prefeituras; o i-Educar, para atividades educativas; e o Urbem, que reúne informações financeiras e tributárias do município.