Ex-gerente do Comperj diz que não sabia da existência de cartel nas obras
O Ex-gerente geral do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) na área de Engenharia Jansen Ferreira da Silva disse hoje (28), em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, que não sabia da existência do esquema de cartel e pagamento de propina a funcionários da empresa, denunciados pela Operação Lava Jato.
“Não tenho informação [sobre cartel] ou fatos sólidos para apresentar a esta comissão. A cartelização é um fenômeno que acontece, ele pode ter existido, mas eu desconheço”, disse Jansen. “Desconheço o fato [pagamento de propina para funcionários da Petrobras], muito embora ele esteja na mídia”, completou o ex-gerente, responsável pelo canteiro de obras da Comperj entre 2010 e 2012.
De acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), as obras do Comperj, atualmente paralisadas, sofreram superfaturamento. Orçada inicialmente em US$ 8,4 bilhões, hoje o complexo é estimado em US$ 47,7 bilhões.
Indicado para o cargo pelo ex-diretor de Serviços Renato Duque, Jansen negou ter recebido propina. "Minha relação com Duque era amistosa. Sou amigo dele há mais de 30 anos", afirmou. Ontem (27), Duque foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF), juntamente com o tesoureiro afastado do PT, João Vaccari Neto, e o executivo Augusto Mendonça, do grupo Setal Óleo e Gás, por lavagem de dinheiro correspondente a R$ 2,4 milhões.
Perguntado sobre as afirmações à Justiça Federal, em delação premiada dos empresários Júlio Camargo e Augusto Mendonça, da Toyo Setal, sobre a existência de pagamento de propina, mediante aditivos contratuais, para o ex-gerente de Tecnologia Pedro Barusco e os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa e Renato Duque, ele negou ter conhecimento do fato.
Aos deputados, Jansen disse que os aditivos foram assinados por Barusco, mas admitiu que assinou os aditivos de terraplenagem que, segundo o TCU, teve sobrepreço de R$ 76 milhões – de um total de R$ 130 milhões previstos.
Ao ser indagado pela deputada Eliziane Gama (PPS-MA) sobre suas relações com Barusco, Paulo Roberto Costa e Renato Duque, Jansen disse ter amizade com Duque, mas nenhuma relação com Barusco ou Paulo Roberto. “O senhor tinha amizade, mas não tinha conhecimento do pagamento de propina”, ironizou a deputada. “Todo mundo que vem aqui diz que não sabia de nada”, completou.
O deputado Altineu Côrtes (PR-RJ), sub-relator da CPI para investigação do superfaturamento e gestão temerária na construção de refinarias no Brasil, disse que não acreditava na boa-fé de Jansen. "Nosso trabalho aqui na CPI ainda vai cruzar com informações que o senhor participou daquela corrupção lá.”
Antes do depoimento do ex-gerente do Comperj, a CPI ouviu o ex-presidente do Comperj Petroquímico, Nilo Carvalho Vieira Filho, que disse à comissão não ter tido relação com a construção do complexo nem com a refinaria que originalmente integrava o projeto. Aos deputados, ele disse que foi nomeado presidente da empresa Comperj S.A., criada para negociar os ativos e os produtos petroquímicos, e não tinha a função de construir o Comperj. “Havia uma gerência geral para a implantação do Comperj, ligada à Diretoria de Abastecimento, responsável por construir o Comperj”, explicou.
Na reunião desta terça-feira, a CPI da Petrobras também colheu depoimentos do gerente de Informação Técnica e Propriedade Intelectual da Petrobras, Fernando de Castro Sá, e do ex-integrante do Comitê de Auditoria da estatal Mauro Cunha. As oitivas ocorreram no âmbito da sub-relatoria que investiga superfaturamento e gestão temerária na construção de refinarias no país.
