CPI da Petrobras: empresário confirma propina para ex-diretores da Petrobras
Em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, o diretor-presidente da construtora Camargo Correa, Dalton Avancini ratificou o que havia dito em delação premiada à Justiça Federal. Aos deputados, Avancini confirmou que a empresa pagou R$ 110 milhões em propina aos ex-diretores de Abastecimento, Paulo Roberto Costa e de Serviços, Renato Duque da estatal. “Foram R$ 47 milhões para o Paulo Roberto Costa e R$ 63 para o Renato Duque. Havia esse compromisso com os diretores”, disse Avancini.
Segundo ele, havia a informação de que Costa era apoiado pelo PP e Duque, pelo PT, e que 1% do valor de cada contrato era repassado aos partidos. “A informação que a gente tinha era de que existia um partido que apoiava um diretor da área de abastecimento que era o PP que apoiava o diretor [Paulo Roberto] e que na área de serviços [Renato Duque], o PT", completou. Porém o empresário disse desconhecer quem seriam os destinatários da propina.
Avancini, que confirmou ainda que o doleiro Alberto Youssef se apresentava como operador do PP, disse que a propina era paga a partir do superfaturamento de contratos com a estatal. “Dentro da Camargo, esse valor atribuído como propina era incluído no preço final que eu repassava para a Petrobras.”
Avancini negou ainda que o pagamento de propina tenha sido feito por meio de doações a partidos. Perguntado se o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto havia pedido R$ 10 milhões de propina por meio doação de campanha, o diretor-presidente declarou ter sido procurado pelo vice-presidente da Camargo, Eduardo Leite, para tratar da questão. “O Eduardo me repassou que foi procurado por Vaccari e me repassou a demanda. Mas isso não foi pra frente porque não era prática da empresa pagar propina por meio de doação de campanha.”
Sobre a dinâmica do pagamento de propinas, Avancini informou que era um sistema “complexo” e que em alguns casos a propina chegava a sair dos cofres da Camargo. “A empresa assina o contrato, mas se o empreendimento deu prejuízo, aí sai do bolso da empresa. Em outros, a gente fecha o contrato e o valor da obra sai abaixo do contrato, aí [a propina] sai do contrato”, explicou.
Sem muitas novidades, o empresário confirmou a existência do cartel de empreiteiras que combinavam os preços e os vencedores das licitações da Petrobras. Avancini disse ainda que, apesar dos mecanismos de licitação da Petrobras serem rígidos, a estatal poderia ter criado instrumentos para impor a concorrência entre essas empresas. Durante sua gestão, a Camargo Corrêa venceu licitações para obras na Refinaria Getúlio Vargas (Repar) e na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
Além de Avancini, estava previsto para esta quarta-feira o depoimento do ex-diretor da Galvão Engenharia, Erton Fonseca, que não compareceu alegando dor de dente. Ainda não há nova data para a oitiva do executivo. Avancini e Fonseca estão em prisão domiciliar e são monitorados por uma tornozeleira eletrônica.