Câmara adia convite a embaixador para que explique incidente na Venezuela
O deputado Raul Jungmann (PPS-PE) solicitou a retirada da pauta do pedido de convite para que o embaixador brasileiro em Caracas, Rui Pereira, explicasse a situação relatada por senadores brasileiros hostilizados na Venezuela, na semana passada. As discussões duraram mais de uma hora para que se decidisse pela retirada do pedido. Senadores brasileiros tentaram, na semana passada, visitar membros da oposição ao governo venezuelano, que estão presos.
Durante as discussões, marcadas por muitas divergências, parlamentares chegaram a sugerir que em vez de convite fosse enviado um questionário sobre o assunto e, ainda, que o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, falasse sobre o incidente. O ministro já havia sinalizado que estava à disposição do colegiado.
“Considerando tratar-se de um Estado-membro do Mercosul e de um país com quem o Brasil sempre usufruiu as melhores relações, tal episódio merece um esclarecimento por parte do nosso embaixador”, defendeu Jungmann.
A votação foi marcada pela divisão do colegiado da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Parlamentares como Jean Wyllys (PSOL-RJ) e Glauber Braga (PSB-RJ) questionaram a missão dos senadores. Segundo Jean Wyllys, o Brasil tem exemplos de violação aos direitos humanos suficientes para mobilizar parlamentares e, no cenário internacional, não se manifesta sobre situação como a dos presos políticos em Guantánamo, cidade cubana, sob a responsabilidade dos Estados Unidos.
“Não podemos fazer campanha no país dos outros. Se estou mediando conflitos tudo bem, mas eu não fui nem aos Estados Unidos para fazer defesa de impeachment de George Bush ou dizer que eleições têm que ocorrer desta ou daquela forma. O que houve foi um desrespeito à autodeterminação de outros países”, acrescentou Glauber Braga.
Lembrando que é de partido da oposição, Ivan Valente (PSOL-SP) avaliou que o incidente mostra que a Venezuela sempre “desperta paixões”, porque insurgiu contra modelos "como o imperialismo americano”. Ele acrescentou que o papel da comissão foi promover uma “disputa política interna no ambiente externo”. Para ele, o embaixador não deve explicações ao colegiado pelo fato de não ter acompanhado os parlamentares. “Ele só cumpriu seu papel dipolmático. Não teve nada a ver com isto”.
O deputado Major Olimpio (PDT-SP), por sua vez, disse que não se opõe a qualquer outro tipo de visita, mas defendeu que a agressão relatada pelos senadores precisa ser apurada. “O que estamos discutindo é o tratamento dado a senadores da República”, afirmou.
Já o deputado Rubens Bueno (PPS-PR) lembrou que foi o autor do requerimento para a formação da comitiva, composta em março deste ano. “No dia 5 de julho completaremos quatro meses sem ter a palavra do governo brasileiro e da Venezuela sobre a presença dessa comitiva na Venezuela, que integra o Mercosul. Os senadores foram impedidos e sitiados. Isso é uma demonstração clara da intolerância e violência que toma conta do governo venezuelano. Queremos ir lá e cumprir nosso papel como membros do Mercosul para verificar se há ou não democracia”, destacou.
Rubens Bueno explicou que a comitiva não segue uma ideologia única e lembrou que foram indicados nomes de todos os partidos para formar o grupo, incluindo o PT, PROS e PSDB. “É um conjunto de forças”, argumentou.
Os deputados também aprovaram o convite para que o chanceler Mauro Vieira explicasse a reclassificação de documentos sigilosos relacionados à Odebrecht no período de 2003 a 2010. Matéria publicada pelo jornal O Globo no dia 12 de junho acusou a pasta de Vieira de “inviabilizar” dados solicitados por um jornalista da revista Época.
Foi aprovado, ainda, uma audiência pública que debaterá o Tratado sobre Comércio de Armas, assinado pelo Brasil na Organização das Nações Unidas, em Nova York, há dois anos. A reunião foi marcada para o dia 30. O colegiado convidará Rosalie Maurice Bou Assi, coordenadora do Conselho de Representantes dos Brasileiros no Exterior para falar do assunto.