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Política

Ex-presidente da Camargo Corrêa: não houve propina para agentes do BNDES

Carolina Gonçalves - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 06/10/2015 - 17:15
Brasília

O  ex-presidente da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, disse hoje (6) na comissão parlamentar de inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados que investiga irregularidades no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que nunca soube de pagamento de propina para garantir financiamentos do BNDES. Ele explicou que, como presidente, não atuava diretamente com o banco, mas afirmou que os processos eram rigorosos.

“Tínhamos uma vice-presidência financeira, que é por onde passavam estas tratativas. Jamais tive informação sobre propina para agentes do BNDES. As relações eram extremamente rigorosas”, disse. Segundo ele, em vários projetos comandados pela empresa, os processos para financiamento chegaram a demorar tanto tempo para serem aprovados que “muitas vezes a Camargo Corrêa tocava com recursos próprios”.

Avancini  entrou na Camargo Corrêa, como trainee, em 1992, se tornou presidente em 2011 e deixou o comando da empresa no final de 2014, quando começaram as investigações da Lava Jato. Segundo ele, no período em que esteve na presidência, quase nenhuma concessão de financiamento solicitada pela empresa foi concluído e, em alguns casos, os recursos só foram liberados quando os projetos já estavam avançados.

Dalton dos Santos Avancini, ex-executivo da Camargo Corrêa

"Jamais tive informação sobre propina para agentes do BNDES", diz Dalton Avancini, ex-executivo da Camargo CorrêaWilson Dias/Agência Brasil

Quando Avancini assumiu a presidência da Camargo Corrêa, o contrato de concessão da Usina de Belo Monte já estava negociado. Ele explicou que o financiamento, nos casos de consórcio, quem toma o empréstimo não são as construtoras. “A Camargo chegou a participar de um grupo e chegou a fazer estudos, mas acabou declinando da proposta para concessão da usina. A Camargo não tem nada a ver com isto, porque a [concessionária] Norte Energia, que é a dona da concessão, é quem que toma o financiamento. Não havia relação das construtoras diretamente com o BNDES”, informou. A Camargo tinha 16% do projeto, que somava R$ 13,8 bilhões, reunindo um consórcio com dez empresas.

Ao ser perguntado sobre a decisão do banco de direcionar parte dos financiamentos a projetos no exterior – antes fortemente concentrados nos Estados Unidos - para países como Venezuela e Angola, o ex-presidente da empreiteira afirmou que era uma estratégia das empresas. “Estava associada à política do banco, mas também à ação muito intensa das empresas buscando estes mercados”, declarou.

Avancini voltou a confirmar, como fez na CPI da Petrobras, as informações prestadas à Justiça Federal de que a empreiteira pagou propina a alguns partidos para assegurar contratos de obras. Em delação premiada informou que pagou R$ 110 milhões em propina aos ex-diretores Paulo Roberto Costa (R$ 47 milhões) e Renato Duque (R$ 63 milhões). Ele explicou que esses pagamentos já estavam acordados entre os diretores, que repassavam 1% do valor de cada contrato para os partidos – ao PP, por Costa, e PT, por Duque -, mas negou conhecer o destinatário final da propina.

Segundo Avancini, o dinheiro era repassado para a Petrobras e não foi destinado a doações para os partidos. O ex-presidente da Camargo Côrrea ainda confirmou que foi procurado pelo vice-presidente da empresa, Eduardo Leite, para negociar com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que havia pedido R$ 10 milhões de propina por meio doação de campanha, mas as conversas não avançaram, porque não era prática da empresa pagar propina por meio de doação de campanha.

Os contratos eram superfaturados para que houvesse essa “sobra” no preço final. A Camargo Corrêa participou de consórcios responsáveis por obras das refinarias Getúlio Vargas (Repar), em Araucária (PR), Henrique Lage (Revap), em São José dos Campos (SP), Abreu e Lima (Renest), em Pernambuco e das obras do Gasoduto Urucu-Manaus.

Avancini ainda confirmou a existência do cartel de empreiteiras que combinavam os preços e os vencedores das licitações da Petrobras e afirmou que apesar de ter regras rígidas de licitação, o esquema criava brechas para limitar a concorrência entre essas empresas.