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Política

Tereza Campello diz que impeachment resultará no retrocesso de políticas sociais

Apesar da preocupação, ministra disse não acreditar que a presidenta
Pedro Peduzzi - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 30/03/2016 - 15:28
Brasília
Ministra Tereza Campello
© Elza Fiuza/Agencia Brasil

A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, disse hoje (30) que as políticas sociais implementadas pelo governo correm risco de retroceder caso as forças políticas a favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff atinjam o objetivo.

A ministra Tereza Campello participa do programa semanal Bom Dia Ministro. A ministra falou sobre o reajuste de 10% nos benefícios do Programa Bolsa Família anunciado na semana passada (Elza Fiuza/Agência Brasil)

Para a ministra, o debate sobre o futuro depende de não interromper o presenteArquivo/Elza Fiuza/Agencia Brasil

“Não é apenas uma questão de golpe, mas de interromper um projeto que está em curso há 13 anos”, alertou a ministra, durante a reunião plenária do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), quando foram apresentados resultados do 1º Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Plansan). Segundo o levantamento, entre 2004 e 2014 a taxa de pobreza caiu de 22,3% para 7,3%.

As regiões que tiveram melhor desempenho foram o Nordeste, onde o percentual de pessoas vivendo na pobreza caiu de 42,3% para 15%, e o Norte, que, no mesmo período, apresentou uma queda de 30,4% para 13%. Já o percentual dos que se encontravam em situação de extrema pobreza caiu, entre 2009 e 2014, de 7,6% para 2,8%.

O Nordeste também foi o mais beneficiado nesse quesito, com uma redução de 16,5% para 5,7% no período. Ainda segundo o balanço, entre 2013 e 2014 a renda média domiciliar per capita aumentou 2,4% no Brasil – percentual que chega a 6,2% se o recorte abranger a camada 10% mais pobre do país.

“Estamos vivendo um momento em que está em jogo essa política. O risco é de vivermos retrocesso [caso haja impedimento da presidenta Dilma]”, afirmou a ministra.

“Nesse sentido, o debate sobre o futuro depende de não interrompermos o presente. Imagina o que seria o país hoje se não tivessem interrompido o conjunto de reformas que estava em curso em 1964 com o [ex-presidente] Jango. É isso o que está sendo colocado hoje e aqui”, destacou a ministra. “Não se pode jogar a democracia no lixo, como estão querendo fazer”, acrescentou.

Apesar da preocupação, Tereza Campello disse não acreditar que a presidenta seja afastada do cargo, mas ressaltou a relevância que as entidades participantes do Consea terão para evitar o "golpe".

“Acho que não conseguirão emplacar o golpe, porque há vários setores democráticos que sabem o que está em jogo. Quanto mais escancarada for essa tentativa de golpe, maior será o apoio à democracia. Temos inclusive apoio internacional.”

De acordo com a ministra, o Consea – que não é apenas um conselho setorial e abrange entidades das mais diversas áreas, como nutrição, medicina, quilombolas, indígenas, mulheres em ambientes rurais e urbanos, indústrias, entre outros – será muito importante para evitar efeitos negativos do impeachment "porque o que estão tentando fazer não é apenas desindexar a economia. É desvincular o orçamento e nós temos políticas continuadas sendo implementadas no país. Não dá para mudar a cada ano.”

Tereza Campello elogiou a “corajosa nota” divulgada durante o evento pelo Consea, manifestando compromisso com a legalidade democrática e “repudiando com veemência as investidas que visam à desestabilização política do país”.

A  ministra criticou duramente a campanha da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) pedindo o impeachment de Dilma, inclusive por meio de “campanhas publicitárias milionárias” nos principais jornais do país.

“Contei 14 páginas de anúncios pedindo impeachment em cada um dos principais jornais [de circulação nacional], todos pagos pela Fiesp. Na verdade, isso foi pago pelo grande capital e deixa claro o que está acontecendo, além de nos permitir ter uma ideia dos votos que eles estão querendo comprar. É isso o que está sendo financiado neste país. As fraturas da sociedade estão abertas, pedindo que nos posicionemos em defesa da democracia e de um projeto”, argumentou a ministra.

Segundo ela, as eleições terminaram em 2014, mas o embate continua. "Se alguém tem de ser questionado é justamente quem está liderando o processo de impeachment, que é o presidente da Câmara. Precisamos nos mobilizar não só para a manifestação de amanhã (31) em favor da democracia, mas para cobrar o posicionamento dos deputados para que se manifestem contra o golpe", completou, pouco antes de os integrantes do Consea darem início ao grito de guerra: "Não vai ter golpe, vai ter luta".

Ainda durante a plenária do Consea, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) lançou o livro Superação da Fome e da Pobreza Rural: Iniciativas Brasileiras, publicação que apresenta as principais experiências do Brasil de combate à fome e à miséria. Foi por meio dessas iniciativas que, em 2014, o Brasil saiu do Mapa Mundial da Fome da ONU. O livro já conta com uma versão em espanhol, lançada este mês durante a última Conferência Regional da FAO no México.