PF e Justiça estão convencidos de ação da Polícia Legislativa contra a Lava Jato
A Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça Federal estão convencidos que as varreduras de policiais legislativos nas casas de parlamentares foram feitas para atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato. Essa convicção vai de encontro à declaração do presidente do Senado, Renan Calheiros, que afirmou que as atividades da Polícia Legislativa em varreduras de escutas ambientais “restringem-se à detecção de grampos ilegais, conforme previsto no regulamento interno”.
A investigação mostrou que as varreduras eletrônicas eram feitas em casas de parlamentares que haviam acabado de serem alvo de operações de busca e apreensão da Lava Jato. O apartamento do senador Collor, por exemplo, foi um dos revistados logo após a ida de agentes da PF ao local. “A intenção foi frustrar o trabalho que estava ocorrendo lá”, disse uma fonte à reportagem.
Além disso, a Polícia Federal (PF) descobriu que policiais legislativos foram mandados para o Maranhão para fazer uma varredura na casa do então genro do ex-senador Edison Lobão Filho. As provas juntadas nas investigações incluem documentos, passagens aéreas, registro de uso dos celulares dos acusados nos lugares de varredura, além de provas testemunhais.
Tanto o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, quanto o diretor-geral da PF, Leonardo Daiello, enfatizaram que a Operação Métis, que investiga as varreduras de policiais legislativos nas casas de parlamentares, está sendo realizada em parceria entre as polícias Federal e Legislativa. As investigações começaram após a denúncia de policiais legislativos que se recusaram a fazer as varreduras por considerarem ilegais e alertaram a força-tarefa da Lava Jato sobre o fato.
“Temos em nossa cultura que a parceria é o caminho. Não há disputa nenhuma nesse momento [entre as polícias]”, disse Daiello. Já o ministro Moraes enfatizou o combate a qualquer ação que vise obstruir a Lava Jato. “Toda tentativa de diminuir ou frustrar a operação é investigada”, falou.
Atuação fora dos limites é negada
O ministro da Justiça disse que a operação de busca e apreensão da Polícia Federal, que prendeu na manhã de hoje (21) policiais legislativos no Senado, não extrapolou sua competência e seguiu os trâmites legais necessários.
“Concordo que cada uma das instituições deve exercer estritamente suas atribuições constitucionais e legais. Por isso a PF realizou a sua operação com base em mandado de busca e apreensão e mandados judiciais de prisão para poder realizar o que realizou hoje”, disse o ministro, em Brasília.
Ele destacou que a investigação é contra a obstrução das investigações da Operação Lava Jato, e não acerca da varredura de escutas nas residências de parlamentares.
“O que foi investigado é o desvio de finalidade de quatro integrantes da polícia do Senado, que teriam utilizado as suas atribuições com finalidade ilícita, a obstrução da Lava Jato”, reforçou o diretor da PF, Leonardo Daiello.
Os parlamentares que tiveram imóveis vasculhados de forma irregular pela Polícia Legislativa foram a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), o senador Fernando Collor (PTC-AL) e o ex-senador Edison Lobão Filho. Além disso, o ex-presidente da República e ex-senador José Sarney também solicitou a varredura. As investigações descobriram que Sarney fez o pedido para o diretor da polícia do Senado, Pedro Ricardo Carvalho, preso hoje. Este, por sua vez, fez uma requisição aos seus subordinados, que cumpriram a ordem.
Operação Métis
A Polícia Federal esteve por cerca de três horas nas dependências da Polícia Legislativa, no subsolo do Senado, na manhã desta sexta-feira. Foram retiradas do local 10 malas de documentos e equipamentos eletrônicos para busca de escutas.
A denominada Operação Métis – que na mitologia grega representa a deusa da saúde, proteção, astúcia, prudência e virtudes - cumpriu ao todo nove mandados judiciais, sendo cinco de busca e apreensão e quatro de prisão temporária.
Além do diretor da polícia do Senado, foram presos os policiais legislativos Everton Taborda, Geraldo Cesar de Deus e Antonio Tavares. Todos foram encaminhados para a superintendência da PF em Brasília. Eles vão responder pelos crimes de associação criminosa, corrupção privilegiada e embaraço à investigação de infração penal. Somadas, as penas podem chegar a 14 anos de prisão, além de multa.