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Política

Parlamentares reagem à escolha de Marun como relator da CPMI da JBS

Paulo Victor Chagas - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 12/09/2017 - 18:49
Brasília
Brasília - O presidente do colegiado, senador Ataídes Oliveira, indicou o deputado Carlos Marun como relator da CPMI criada para investigar as atividades do Grupo JBS (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Brasília - Senador Ataídes Oliveira indica o deputado Carlos Marun relator da CPMI da JBS (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Após a confirmação do nome do deputado Carlos Marun (PMDB-PR) para a relatoria da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) criada para investigar irregularidades envolvendo o grupo JBS, dois senadores – Otto Alencar e Ricardo Ferraço - pediram para deixar o colegiado em protesto pela escolha. Logo que o presidente da CPMI, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), anunciou o início dos trabalhos, o senador Otto Alencar (PSD-BA) pediu a palavra para criticar o que chamou de “CPI chapa branca”.

Apesar dos apelos de Ataídes para que se acalmasse e continuasse ouvindo os colegas, Otto Alencar deixou a sala da comissão. “O testa de ferro do Temer na Câmara, que é o Carlos Marun, é o relator. Então você acha que vai acontecer o que com o Temer? Absolutamente nada. Ele está envolvido nas denúncias de corrupção da JBS, ele foi gravado, tem a fala dele dizendo coisas que não deveria dizer”, denunciou o parlamentar, em entrevista à imprensa após deixar o local.

A CPMI foi instalada para investigar as operações da JBS e da holding J&F com o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), além de apurar as condições em que foi firmado o acordo de delação premiada entre os executivos da companhia e o Ministério Público Federal no âmbito da Operação Lava Jato. Na semana passada os executivos da J&F Joesley Batista   e Ricardo Saud tiveram os benefícios da delação suspensos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Um dos principais aliados do presidente Michel Temer, Marun disse que não se sente impedido de assumir a relatoria, apesar de ter recebido, de forma indireta, recursos financiados pela JBS em sua campanha. “Eu me sentiria impedido se eu tivesse relação estreita com a JBS, coisa que eu não tenho. Então, me sinto completamente à vontade e tranquilo para o exercício dessa relatoria. Tenho uma relação estreita com o governo. Mas eu vou atuar em cima da verdade”, declarou Marun antes do início da reunião.

Mais cedo, o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) já havia pedido a retirada do seu nome como integrante do órgão alegando que o objetivo da CPMI não é investigar e sim “fazer acerto de contas”. O senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP) também estuda deixar a comissão, mas disse que pode continuar a colaborar com a “amplíssima minoria” para fazer as denúncias “na medida do possível”.

“O comando da CPMI não está aqui, está no Palácio do Planalto. Tem um consenso entre o governo e a oposição. Setores da oposição, notadamente o PT, que não reagiram à designação de Marun. É uma reação do sistema político à investigação. É um sistema político que não aceita ser investigado e quer intimidar quem investiga”, criticou o senador Randolfe Rodrigues.

Relatores

Já o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) disse acreditar nos trabalhos da comissão, mesmo discordando da escolha de Marun. “Essa situação foi minimizada no momento em que o presidente abriu duas subrelatorias e colocou dois parlamentares totalmente independentes. Como tal, temos como trabalhar. Essa CPMI não vai ficar debruçada sobre assuntos de ordem particular de A ou de B. Mas sim buscar o que a sociedade brasileira espera de uma empresa que foi alavancada no período do PT e que passou a ser a maior do mundo com dinheiro da população brasileira e nós pagando o prejuízo”, declarou.

Escalado para uma das subrelatorias da comissão, o deputado Fernando Francischini (SD-PR) disse que buscará fazer um “contraponto” à relatoria de forma técnica. Segundo ele, é preciso separar o “joio do trigo” no acordo de delação após virem à tona indícios de que os executivos Joesley Batista e Ricardo Saud omitiram informações ao Ministério Público.

“A maioria dos senadores e deputados pediu ao presidente que me colocasse na subrelatoria para que a gente pudesse fazer também um trabalho técnico. Claro que o embate político é típico de qualquer CPMI. Nós não podemos aceitar que interesses obscuros queiram anular toda a delação premiada da JBS. Noventa por cento ou mais das provas obtidas com a delação tem fatos consistentes de crime organizado, corrupção de poderosos e autoridades do nosso país”, disse.

Além de Fernando Francischini, que será o responsável pela relatoria dos contratos com o BNDES, dos financiamentos e da delação, o deputado Hugo Leal (PSB-RJ) ficará com a segunda relatoria, que investigará as áreas fiscal, previdenciária e agropecuária da companhia.

O senador Lasier Martins (PSD-RS) disse respeitar Carlos Marun, mas é de opinião que “não é o mais indicado” para o cargo. “O PMDB e o PT não deveriam ocupar essa relatoria, porque têm profundos interesses na causa”, disse, defendendo que os parlamentares membros da CPMI atuem como “vigilantes”.

Plano de trabalho

Os requerimentos para que a convocação de pessoas consideradas chave para a CPMI não foram votados, apesar da previsão inicial. Ao tomar a palavra ao final da reunião, o relator Carlos Marun disse que pretende elaborar o plano de trabalho da comissão nos próximos três dias e apresentar na reunião da próxima terça- feira (12). O deputado manifestou repúdio à decisão do senador Otto Alencar de deixar a CPMI, classificando de “atitude pirotécnica” e prometeu não “varrer para debaixo do tapete” qualquer atitude incorreta dos procuradores da República.

O presidente da CPMI, senador Ataídes Oliveira, também criticou a atitude de Otto, considerando “horrorosa” e um “desrespeito” aos colegas. “O nosso propósito aqui é muito específico. Quando vejo oposição e situação falando a mesma língua, o objetivo é único. Eu acredito num bom resultado dessa CPI. Estamos prestando atribuições que nos são de dever”, disse.