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Política

Encontro debate desafios para igualdade de gênero na política

Evento reuniu em Brasília ex-presidentas e ex-primeira-ministra
Pedro Rafael Vilela – Repórter da Agência Brasil
Publicado em 14/11/2023 - 20:58
Brasília
Brasília (DF), 14.11.2023 - O Ministério das Mulheres realiza, no Palácio do Planalto, o evento Mulheres no Poder: Estratégias para Implementação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU para Alcançar a Igualdade de Gênero. Participam do encontro a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, a primeira-dama Janja Lula da Silva, a ex-presidente do Chile Michelle Bachelet Foto: Claudio Kbene/PR
© Claudio Kbene/PR

A participação das mulheres na política foi tema de um evento realizado nesta terça-feira (14) no Palácio do Planalto, que contou com a presença das ex-presidentas Michelle Bachelet, do Chile, e da Costa Rica, Laura Chinchilla, e da ex-primeira-ministra do Senegal, Aminata Touré.

Organizado pela ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, o encontro intitulado Mulheres no Poder: Estratégias para Implementação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU para Alcançar a Igualdade de Gênero também reuniu outras personalidades da política nacional, entre as quais, a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), ex-governadora e ex-senadora pelo Rio de Janeiro, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e a primeira-dama Janja Lula da Silva.   

Avanços lentos

"Não há nada mais importante para as mulheres do que tomar o poder. Não somente pelas políticas e decisões em favor das mulheres, mas também pela forma em que mudamos as gerações mais jovens", destacou Laura Chinchilla, que governou a Costa Rica entre 2010 e 2014. Segundo a ex-presidenta, apesar do avanço da participação das mulheres em espaços de poder, ameaças mais recentes à democracia e a emergência de líderes políticos misóginos e populistas são obstáculos ao avanço da igualdade de gênero.

Eleita duas vezes presidenta do Chile, Michelle Bachelet foi também diretora executiva da ONU Mulheres, agência das Nações Unidas pelos direitos das mulheres, e alta comissária da ONU para os Direitos Humanos. Ao comentar a situação de gênero das mulheres na vida social, Bachelet disse que os avanços ainda são muito lentos e insuficientes.

"Observem que, se continuarmos nesse ritmo, vamos precisar de 300 anos para erradicar o casamento infantil. Se seguirmos nesse ritmo, vamos precisar de 140 anos para que as mulheres estejam igualmente representadas em espaços de poder e mais de 180 anos para que haja igualdade econômica entre homens e mulheres. Precisamos de quatro décadas para alcançar igualdade parlamentar e três décadas para igualdade de representação local. Estou falando em níveis globais e latino-americanos. Tivemos avanços, mas avanços lentos", destacou.

Primeira-ministra do Senegal entre 2013 e 2014, Aminata Touré ressaltou que, em seu país, 45% dos parlamentares são mulheres. "Isso não aconteceu de um dia para o outro, é resultado do compromisso e da luta das mulheres por muitos anos. Por lei, essa luta teve um resultado. É mandatório que, por lei, partidos políticos tenham listas iguais de homens e mulheres [em eleições]", observou Aminata. "Eu acredito que um mundo com mais mulheres no poder será um mundo mais humano. Quando as mulheres vêm para espaços de poder, elas são menos cínicas", afirmou.

Sem misoginia

Brasília (DF), 14.11.2023 - O Ministério das Mulheres realiza, no Palácio do Planalto, o evento Mulheres no Poder: Estratégias para Implementação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU para Alcançar a Igualdade de Gênero. Participam do encontro a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, a primeira-dama Janja Lula da Silva, a ex-presidente do Chile Michelle Bachelet Foto: Claudio Kbene/PR
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves - Claudio Kbene/PR

Durante o evento, como forma de estimular mudanças culturais, o Ministério das Mulheres lançou a campanha Brasil sem Misoginia, para combater o ódio e todas as formas de violência e discriminação contra as mulheres no país.

"Não existe uma parlamentar, seja vereadora, deputada estadual ou federal, que não foi perseguida nas redes sociais por misoginia", exemplificou a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves. "Nós precisamos enfrentar a raiz do problema. O grande problema é o ódio colocado contra as mulheres", acrescentou.

Na mesma linha, a primeira-dama Janja Lula da Silva comentou os ataques sofridos por mulheres que estão na política, especialmente no Parlamento. Ao mencionar esses casos, Janja os relacionou com a própria ameaça à democracia e citou sua experiência pessoal, com a visibilidade alcançada, quando passou a sofrer ataques machistas e misóginos, apesar de se interessar pela luta política desde os 16 anos. "Para alguns, é inaceitável uma primeira-dama que gosta e se envolve na política."

Representatividade

A primeira-dama também destacou a falta de igualdade na representação política. "É preocupante quando olhamos para o Brasil, que está em penúltimo lugar no número de mulheres no parlamento nacional, comparado a outros países da América Latina e caribenhos", afirmou. Em seguida, assim como a ministra das Mulheres, Janja disse que é preciso ir além das cotas de candidatura em partidos políticos e assegurar reserva de cadeiras no Legislativo para as mulheres.

"Temos observado um crescimento do número de mulheres eleitas para o Parlamento. Porém, no Brasil, esse crescimento ainda é tímido, não é suficiente para representar o tamanho da população feminina e, menos ainda, da população de mulheres negras. A minha luta é para que isso aconteça", afirmou a deputada Benedita da Silva, que coordena a bancada feminina na Câmara dos Deputados.

Encontro com Lula

Mais cedo, antes do evento sobre mulheres no poder, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a primeira-dama receberam Michelle Bachelet,  Laura Chinchilla e Aminata Touré.

Em nota, o Palácio do Planalto informou que, durante a reunião, Lula e as ex-chefes de governo do Chile, da Costa Rica e do Senegal conversaram sobre o papel da mulher nas sociedades modernas e a necessidade de promoção de agendas que reduzam as desigualdades de gênero, como a recém-aprovada Lei da Igualdade Salarial, no Brasil.