Uma catadora de papel negra que ganhou o mundo das letras, num feito que para muitos parece impossível, agora é Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ). É Carolina Maria de Jesus, a mineira que morou na favela do Canindé, em São Paulo, onde catava papel para sobreviver.
A escritora ganhou o título, em uma homenagem póstuma, pela UFRJ. A aprovação da honraria foi unânime e por aclamação.
Carolina Maria de Jesus se revelou como escritora após os 30 anos, quando se mudou de Minas Gerais para São Paulo após a morte da mãe.
Filha de analfabetos, Bitita, como era chamada quando criança, estudou apenas até o segundo ano do ensino fundamental. O curto período nos bancos da escola, no entanto, foi suficiente para fazê-la tomar gosto pela escrita e pela leitura.
Em 1937, aos 33 anos e grávida, passou a viver na favela do Canindé, zona norte da capital paulista, e a se sustentar como catadora de papel.
Sem largar de mão a literatura, aproveitava os cadernos usados que recolhia para registrar o cotidiano em que vivia. Foi assim que deixou uma obra literária atualmente reconhecida como de extrema relevância para a luta antirracista.
Seu primeiro e mais famoso livro, "Quarto de Despejo - Diário de Uma Favelada", foi publicado com o apoio do jornalista Audálio Dantas, em 1958, a partir das anotações que fazia em vinte cadernos.
Para Susana Castro, diretora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, e responsável pela sugestão da honraria, o título veio tardio. A professora destaca a persitência da autora em continuar sua produção literária, mesmo após o jornalista que a revelou ter lhe indicado que seu "papel" já tinha sido cumprido com o primeiro livro publicado.
Com os frutos do seu primeiro trabalho literário, Carolina Maria de Jesus chegou a morar num bairro de classe média de São Paulo. A autora tem ainda outras sete obras - seis publicadas após sua morte, compiladas a partir dos cadernos e materiais deixados por ela.
Novas publicações de manuscritos da autora vão ser publicados pela editora Companhia da Letras, com a curadoria da escritora Conceição Evaristo. Carolina Maria de Jesus morreu em fevereiro de 1977, aos 62 anos, de insuficiência respiratória.
A honraria Honoris Causa, que significa “por causa de honra”, é concedida independentemente da instrução educacional a quem se destacou por suas virtudes, méritos ou atitudes.
O agraciado passa a desfrutar dos mesmos privilégios daqueles que concluíram um doutorado acadêmico convencional.
No Brasil, cada instituição de ensino superior define pelo regimento interno quem receberá o título.
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