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Cultura

Orixás, indígenas e Martinho: os enredos do último dia de Sapucaí

Grupo Especial encerra desfile do carnaval do Rio no sábado
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Lucas Coelho - estagiário da Rádio Nacional*
21/04/2022 - 07:54
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro - Desfile da União da Ilha no segundo dia de apresentações do Grupo Especial das Escolas de Samba do Rio, na Sapucaí (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
© Tânia Rêgo; Agência Brasil

A Marquês de Sapucaí serve de palco neste sábado (23), para o segundo e último dia dos desfiles do Grupo Especial das escolas de samba do Rio de Janeiro.

A partir das 22h, o chão voltará a tremer no sambódromo, para alegria de milhares de foliões que aguardavam esse retorno do carnaval, após a festa ser cancelada em 2021 e adiada este ano.

Tuiuti e as personalidades negras

Primeira a entrar na Avenida, a Paraíso do Tuiuti vai defender um enredo sobre a luta, sabedoria e resistência negra. “Ka ríba tí ÿe — Que nossos caminhos se abram”, ganha vida na visão do carnavalesco Paulo Barros, que levará para o sambódromo a contribuição de personalidades negras à humanidade.

A escola da zona norte carioca exaltará ícones como os ex-presidente Barack Obama, Nelson Mandela e a física e cientista espacial norte-americana Catherine Johnson, uma das responsáveis por colocar o homem em órbita da Terra. Todos estarão relacionados a Orixás do candomblé. De forma poética, a Tuiuti fará uma projeção inspiradora para o futuro das populações negras.

Árvore sagrada na Portela 

O Baobá, árvore gigantesca, sagrada e milenar, de origem africana, é tema do enredo da Portela. “Igi Osé Baobá”, dos tarimbados carnavalescos Renato e Márcia Lage, vai contar a história e a simbologia desta que é considerada a árvore da vida. Fundamental à realização de cultos do candomblé, diz a tradição que ela nunca deve ser cortada ou arrancada.

O Baobá representa resistência e, por isso, o seu legado cultural e relevância também serão contados por meio da ancestralidade, identidade, memória e religiosidade. A azul e branco de Madureira ainda irá abordar a questão dos escravos vindos para o Brasil e a sua relação com a árvore sagrada.

Mocidade traz Oxóssi

Terceira a se apresentar neste sábado, a Mocidade Independente de Padre Miguel levará ao Sambódromo o “Batuque ao Caçador”. Ideia original do jornalista e pesquisador Fábio Fabato, o enredo tem como tema central o orixá Oxóssi, padroeiro da escola, que no sincretismo religioso é São Sebastião.

O carnavalesco Fábio Ricardo vai aproveitar a história do padroeiro para fazer homenagem a ícones de vários tempos da bateria da Mocidade e do carnaval carioca. De acordo com a sinopse, é um “enredo dedicado aos ritmistas de ontem, de hoje e de sempre que compõem a alma da Mocidade”.

Enredo indígena na Tijuca

“Wanarã - a reexistência vermelha” é o enredo 2022 da Unidos da Tijuca. Desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, o objetivo da escola do Morro do Borel, no tradicional bairro carioca que dá nome à escola de samba, é contar a história da lenda do guaraná, uma das mais populares da cultura brasileira, e da formação do povo indígena Sateré Mawé.  A Tijuca levará ao público, de acordo com o carnavalesco estreante na agremiação, “a sabedoria ancestral indígena que fala para todas as gerações”.

Grande Rio e Exu

 

A Grande Rio aposta novamente em enredo religioso de matriz africana: “Fala, Majeté! Sete Chaves de Exu”, dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. A escola da Baixada Fluminense levará para a avenida as histórias e manifestações artísticas e culturais do orixá. E, mais uma vez, com uma mensagem contra o preconceito religioso, dando voz àqueles que foram historicamente impedidos de falar.

O enredo será dividido em sete momentos, dentre eles os fundamentos africanos de Exu, considerado o mensageiro, mostrando sua relação com o mito do Zumbi.

Homenagem a Martinho na Vila Isabel

Encerrando a noite, a Passarela do Samba recebe homenagem a um dos grandes sambistas de nossa história. Enredo carregado de emoção, “Canta, canta, minha gente! A vila é de Martinho” dispensa explicações por se tratar de um dos nomes emblemáticos da Unidos de Vila Isabel. Esperado há tempos pela comunidade, o enredo é assinado pelo carnavalesco Edson Pereira, que tem a missão de exaltar o trabalho do cantor, compositor, músico e escritor Martinho da Vila.

 O enredo contará ainda a história de amor entre a Vila e Martinho, que atualmente é presidente de honra da escola.

Encerrados os desfiles, ficará a espera pela abertura dos envelopes com as notas dos jurados, para saber quem levará o título deste que deve entrar para a história como o carnaval de resgate da alegria, após a devastação causada pela covid-19.

 

*Com supervisão de Vitoria Elizabeth

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