Os versos da cultura popular imortalizaram uma arte centenária brasileira. Em Sergipe, um tipo de renda se destaca pela beleza, mas principalmente por mudar a vida de mulheres que vivem no interior do estado.
A renda irlandesa é reconhecida pelo Instituto de Patrimônio Histórico Artístico Nacional, o Iphan, como patrimônio cultural do Brasil.
Mais do que esse reconhecimento, a renda irlandesa tem possibilitado a inclusão produtiva, o associativismo e, acima de tudo, vem contribuindo para o desenvolvimento social e dar visibilidade mundial a um pequeno município de Sergipe.
A renda irlandesa surgiu na Europa, possivelmente no Norte da Itália, entre os séculos dezesseis e dezessete. Essa arte foi difundida para o mundo e aqui no Brasil foi trazida pelas damas da sociedade que vinham da Europa no final do século dezoito.
Elas repassaram o saber para as mucamas que perpetuaram a arte de bordar. Sergipe é o maior produtor mundial de renda irlandesa. No estado, o município que mais se destaca na produção dessa arte está situado a 32 km da capital.
Divina Pastora abriga mais de 80% das rendeiras do estado. Elas estão organizadas na Associação para o Desenvolvimento da Renda Irandesa de Divina Pastora. Aqui elas produzem artigos de cama, mesa e banho, além de toalhas com motivos religiosos, acessórios para roupas e até capa para celular.
A Associação fornece todo o material e as rendeiras ganham de acordo com o que conseguem produzir. Maria Isabel dos Santos borda há 25 anos e mostra o entusiasmo ao ver a renda bastante divulgada e o trabalho da comunidade valorizado.
Maria Jucilene se dedica a renda há cinco anos. Além de considerar o ofício uma ótima distração disse que no município a tradição da renda irlandesa é passada de geração a geração.
A renda irlandesa é caracterizada pelo uso do lacê uma espécie de cordão sedoso, é produzida com linha e agulha, seguindo o desenho feito em um papel grosso, formando uma variada combinação de pontos.
Para se ter uma ideia do trabalho e delicadeza, para fazer um caminho de mesa de dois metros, demora-se, em média, três meses para ficar pronto. Dona Alzira Alves é uma espécie de mestre no município. Seus mais de 50 anos dedicados a renda irlandesa fizeram dela uma referência. Está trabalhando em um vestido de noiva que foi encomendado por uma cliente de São Paulo. É muito trabalho até março do ano que vem. Vai lhe render cerca de R$ 8 mil. Ela conta que resolveu aprender a bordar para não ir o trabalho na roça.
Em 2009, a renda irlandesa de Sergipe se tornou patrimônio cultural do Brasil e foi incluída no livro de registro e saberes do Iphan. A renda irlandesa de Divina Pastora possui um selo geográfico que valoriza ainda mais as peças produzidas.
A renda irlandesa está também presente na alta costura, o estilista Altair Santos tem levado o trabalho das rendeiras de Sergipe para as passarelas do sul do país e até para a Europa desde o ano 2000. Altair também levou a renda irlandesa para a televisão e o teatro. Já foi convidado para uma exposição no Museu do Louvre, em Paris, no ano que vem.