Com pitadas de ironia, sarcasmo e bom humor, o cantor, compositor e escritor brasileiro Chico Buarque finalmente recebeu o Prêmio Camões de Literatura de 2019, nesta segunda-feira (24), em Portugal, aos 78 anos. 
Além das restrições da pandemia de covid, o prêmio só poderia ser entregue ao agraciado se o diploma fosse assinado pelo então presidente do Brasil, Jair Bolsonaro - o que não ocorreu. Ao receber o prêmio nesta segunda-feira, em Lisboa, capital de Portugal, Chico Buarque usou o talento com as palavras para ironizar a situação e se solidarizar com os colegas:
"No que se refere ao meu país, quatro anos de governo funesto duraram uma eternidade. Hoje, porém, reconforta-me lembrar que o ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu Prêmio Camões, deixando seu espaço em branco para a assinatura do nosso presidente Lula. Recebo este prêmio menos como uma honraria pessoal, e mais como um desagravo à tantos autores e artistas brasileiros humilhados, ofendidos nestes últimos anos de estupidez e obscurantismo".
O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, disse que a espera foi, também, pela entrega do prêmio:
"O Prêmio (diz) respeito à 2019, é entregue pessoalmente em 2023, mas ninguém cuidará de saber a que ano diz respeito. Diz respeito a todos os anos. Chico esperou quatro anos para receber em mãos, e nós esperamos quatro anos para entregá-lo em mãos - como os admiradores esperam aqueles que admiram. Como os amigos esperam uns pelos outros".
Durante agenda oficial em Portugal, e ao lado da ministra da Cultura brasileira, Margareth Menezes, o presidente Lula também participou da cerimônia e destacou a importância da arte de Chico Buarque para a cultura e a democracia brasileiras.
"Chico transformou em patrimônio literário comum os amores de nossos povos, as alegrias de nossos carnavais, a beleza de nossos fados e sambas, as lutas obstinadas de nossas cidadãs e de nossos cidadãos pela conquista da liberdade e da democracia. Na literatura, Chico fez de sua obra uma declaração de amor à língua portuguesa".
A premiação ocorreu no Palácio de Queluz, em Lisboa, capital portuguesa. Com quatro anos de atraso, o diploma se soma a mais uma das premiações que o artista acumula, ao longo da carreira. Chico, que já escreveu dez livros, além das dezenas de álbuns musicais lançados, já recebeu outras premiações de literatura, incluindo três Jabutis pelas obras Estorvo, Budapeste e Leite derramado.
Criado em 1988, o Prêmio Camões de Literatura é considerado o mais importante prêmio da língua portuguesa. Compõem a comissão jurados de Portugal, Brasil, Angola e Moçambique.
