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Cultura

Superando preconceitos e influenciando a cultura: Ilê Aiyê completa 50

Espetáculos marcam o cinquentenário do primeiro bloco afro do Brasil
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Madson Euler
01/11/2024 - 15:17
São Luís
Salvador - O tradicional bloco afro Ilê Ayiê nas ruas da capital baiana  (Mateus Pereira/Gov-BA)
© Mateus Pereira/Gov-BA

O primeiro bloco afro do Brasil, o Ilê Aiyê, com sede em Salvador (BA), está completando 50 anos.

Embora associado ao Carnaval, o início do Ilê Ayê coincide com um momento histórico importante onde o  mundo assistiu ao surgimento e fortalecimento de vários movimentos que lutavam e incentivavam a valorização da cultura negra como o Black Power, o movimento dos Direitos Civis americanos e a independência de vários países africanos.

Criado em 1º de novembro de 1974, no bairro da Liberdade, em Salvador, o bloco que leva as cores preto, amarelo, vermelho e branco, teve seus primeiros desfiles com escolta policial. Os primeiros anos foram de muito preconceito, como conta Antonio Carlos dos Santos Vovô, conhecido como o Vovô do Ilê.

"O Ilê,  quando nós fundamos - eu Apolônio - , nós conseguimos botar 100 pessoas na rua, saindo com um Fusca, de um vereador. Chegou na avenida, a polícia já recolheu o Fusca e ali ficamos no gogó, né? Um choque na cidade muita gente foi  orientada pelos pais a ir pra casa. 'Vai vir um bloco daqueles negão da Liberdade lá,  você pegue minhas filha, leve para casa'".

A conexão entre a religião e o Ilê Aiyê também é muito forte, afinal, grande parte da trajetória do bloco se mistura com a de Mãe Hilda e do terreiro Ilê Axé Jitolú, na Ladeira do Curuzu, em Salvador. Por quase duas décadas, o terreiro serviu ao bloco como diretoria, secretaria, salão de costura e recepção de associados.

No período carnavalesco, o Curuzu é palco de um ato cultural-religioso: a bênção para a saída do bloco, que acontece com uma orquestra de dezenas de percussionistas e o coral negro em uma celebração. Atualmente o ritual é realizado pela filha de Mãe Hilda, Hildelice Benta dos Santos, a Doné Hildelice.

O “Bloco da Liberdade” continua com suas raízes no Curuzu. Sua sede, agora, é a  Senzala do Barro Preto, onde são realizadas dezenas de atividades educativas de inclusão e também manutenção do legado do Ilê Aiyê. Lá também funciona a Escola Mãe Hilda, com laboratórios de informática, salas de aula, salas de pintura, cozinha industrial e outros espaços.

“Quem é que sobe a ladeira do Curuzu, e a coisa mais linda de se vê, é o Ilê Aiyê"

Neste ano do cinquentenário, o Bloco ganhou documentário, shows dentro e fora do país, exposição e, no começo da noite desta sexta-feira (1º), realiza um show para celebrar a trajetória do “Mais Belo dos Belos”. O espetáculo acontece na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador. Entre  os convidados  desta noite estão parceiros de longa data como  a Orquestra Afrosinfônica, Matilde Charles, Daniela Mercury e Carlinhos Brown, como destaca o Vovô do Ilê.

Na verdade, a maioria desse desse pessoal, o Ilê inspirou um pouco, né? O  Brown quando começou ia muito lá para o Curuzu, para Senzala, para o Santo Antônio. E Daniela é uma das cantoras que tem uma relação, não só só com o Ilê, mas com os blocos afros e ela aprendeu a cantar de ouvido, né? 

Em todo o mundo, o show poderá ser acompanhado pelo youtube da produtora audiovisual baiana Macaco Gordo, no endereço youtube.com/MacacoGordo

* com sonoplastia de Jailton Sodré e colaboração da Rádio Educadora da Bahia.

 

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