Enquanto o índice de insegurança alimentar no Brasil é de 22,6%, em três comunidades Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, o indicador chega a 100%.
O dado alarmante está no documento "O Direito Humano à Alimentação Adequada e à Nutrição do Povo Guarani e Kaiowá", apresentado nessa terça-feira (16), na Universidade de Brasília, pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e pela Fian, organização internacional que luta pelo direito humano à alimentação adequada.
O documento apresenta um resumo dos resultados de uma pesquisa iniciada em 2013 nas comunidades Guaiviry, Kurusu Ambá e Ypo'í. Em 76% das casas pesquisadas, por exemplo, a família respondeu que no mês anterior à pesquisa, crianças e adolescentes passaram pelo menos um dia inteiro sem comer.
Adultos, em 80% das famílias, comeram menos para que sobrasse alimento para as crianças.
O indígena guarani Eliseu Lopes participou do evento e afirmou que a situação decorre, principalmente, da negação aos indígenas do direito à terra, da violência e da discriminação.
A situação de insegurança alimentar entre indígenas também pode ser observada em outras partes do país, mas não de forma tão grave como na população analisada no estudo.
Em comparação com indígenas do médio Rio Negro, no Amazonas, o povo Guarani apresenta 0% de segurança alimentar contra 33% dos índios amazonenses.
A pesquisadora da Universidade de Campinas (Unicamp) Ana Segall apresentou parte do estudo que acabou reforçando o relato de Eliseu Lopes.
Os indígenas Guarani-Kaiowá compõem um grupo de 45 mil pessoas no Mato Grosso do Sul. A maioria vive em pequenas reservas ou em acampamentos em beira de estrada, enfrentando altos índices de violência.