Pelo menos 5 pessoas negras foram mortas a cada dia em ações realizadas por agentes de segurança do Estado, no Brasil, em 2021. O dado abrange apenas sete estados, que são monitorados pela Rede de Observatórios em Segurança Pública, e se refere a um total de 3290 mortes em operações policiais, com 2154 vítimas pretas ou pardas, ou 65%.
Mas os pesquisadores da rede alertam que um dos estados monitorados, o Maranhão, não faz o registro da cor das vítimas, e, nos outros, há muita subnotificação, que chega a 69% no Ceará. De acordo com a instituição, o estado que registrou no período avaliado o maior número absoluto de vítimas foi o Rio de Janeiro, com 1060 pessoas negras mortas. Já a maior proporção de negros entre os mortos foi registrada na Bahia, 98%.
A coordenadora da Rede, Silvia Ramos, salienta que em todos os locais a quantidade de negros entre as vítimas é maior do que a porcentagem desse grupo na população. No Rio de Janeiro, por exemplo, enquanto 51,7% dos habitantes se declaram pretos ou pardos, 87,3% dos mortos por agentes do estado tinham essa classificação.
O Rio de Janeiro também é o campeão em registros de chacina, com 57 ações policiais que deixaram 3 ou mais mortos. Entre esses registros, está o caso emblemático da Favela do Jacarezinho, na zona norte da capital, onde em maio de 2021, 27 suspeitos foram mortos por agentes de elite da Polícia Civil, com diversas denúncias de execução. Na mesma operação, um policial foi morto com um tiro na cabeça, quando entrava na comunidade dominada pelo tráfico de drogas.
Em nota, a Polícia Militar do Rio de Janeiro afirmou que não há qualquer viés racial em sua atuação e que as ações de enfrentamento ao crime são planejadas com base em informações de inteligência, e a preservação da vida como preocupação central.
Já a Polícia Civil do estado declarou que não reconhece a metodologia utilizada pela pesquisa, mas que sua atuação operacional é baseada no tripé inteligência, investigação e ação e todas as mortes ocorridas nos últimos dois anos, são em decorrência de injusta agressão praticada em desfavor de agentes do estado.