“Pé de mulher não foi feito para se meter em chuteiras”. A declaração do então assistente-técnico do Ministério da Educação, Iguesil Marinho, estampou a capa do jornal O Imparcial em 1941.
À época, um decreto-lei determinou que mulheres não poderiam praticar esportes considerados “incompatíveis com as condições de sua natureza”. Mas, mesmo diante dos impedimentos, sem apoio institucional, elas resistiram às repressões e desenvolveram práticas esportivas reservadas aos homens.
Um estudo de memória do esporte da pesquisadora Janice Mazo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, revelou uma Sociedade de Damas no interior gaúcho que desafiava o padrão da época.
Embora com esse nome que remete, incialmente, a uma ideia de mulheres que se encontravam pra conversar, tomar um chá, enfim, trocar algumas ideias, elas também praticavam tiro. Isso no início da década de 1930. Elas começam a utilizar as armas, que os maridos frequentavam nessas associações que eram restritas. As mulheres só frequentavam em dias de festas, de comemoração. E elas organizam a sua própria associação, a sua própria entidade esportiva.
Durante a ditatura militar, em 1965, o governo expediu um documento deixando claro que mulheres estavam proibidas de praticar lutas, futebol, pólo-aquático, rugby, halterofilismo e beisebol. A lei que limitava a atuação feminina no esporte só deixou de valer em 1979. Ainda assim, são muitos os desafios enfrentados pelas atletas na atualidade, como destaca a professora Janice Mazo.
Então, se essa caminhada no esporte olímpico das mulheres já se avançou bastante, mas tem muito mais espaço pra conquistar, eu vejo que, na prática paralímpica, também. E um reconhecimento também maior das nossas atletas paralímpicas e das nossas atletas vinculadas a práticas esportivas dos surdos, que participam da surdo-olimpíadas.
Entre 2019 e 2021, o Instituto de Pesquisa DataSenado, realizou uma pesquisa e entrevistou mulheres que atuam no esporte. De acordo com os relatos, a mulher enfrenta discriminação sexual e assédio.
Além disso, existem poucas mulheres em cargos de liderança na área. As atletas também apontaram que a equidade de gênero no esporte precisa de políticas públicas que passem pela educação, ressignificação cultural, apoio financeiro, promoção de acessibilidade, inclusão e reconhecimento.
Esta é a quarta reportagem da série especial da Radioagência Nacional que conta as conquistas femininas por direitos no Brasil em diferentes áreas da vida, como trabalho, educação e proteção social. As reportagens serão publicadas de 06 a 10 de março de 2023, semana do Dia Internacional da Mulher. Confira todos os episódios:
- Dia Internacional das Mulheres: a evolução feminina na educação
- Dia Internacional das Mulheres: a evolução feminina no trabalho
- Dia Internacional das Mulheres: em busca da independência financeira
- Dia Internacional das Mulheres: o espaço das atletas no esporte
- Dia Internacional das Mulheres: o enfrentamento à violência de gênero