logo Radioagência Nacional
Direitos Humanos

Família de Stuart Angel fará perícia em carta anunciada em leilão

Baixar
Fabiana Sampaio* - Repórter da Rádio Nacional
29/03/2023 - 17:18
Rio de Janeiro

A família do estudante Stuart Angel vai fazer uma perícia na carta anunciada em um leilão na semana passada, supostamente escrita por um oficial da Marinha, na qual confessa e narra com riqueza de detalhes as torturas que levaram à morte o preso político do regime militar.

O documento, datado de 1976, é assinado por um oficial da Marinha de nome Marco Aurélio Carvalho e teria sido registrado em cartório. A carta foi anunciada em um leilão, na última semana, com lance inicial de R$ 800, no site do Leiloeiro Alberto Lopes. O pregão, no entanto, foi cancelado após repercussão do caso. 

A carta foi doada nessa terça-feira (28) para a jornalista Hildegard Angel, irmã de Stuart. Ela afirmou que é prioridade descobrir se esse documento é legítimo e destacou que foi importante ela ter surgido nas vésperas da data que marca o aniversário do início do golpe militar no país. 

Na avaliação do ex-pesquisador da Comissão Nacional da Verdade e da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, Pádua Fernandes, é improvável que o documento seja verdadeiro. 

O especialista aponta que o período em que a carta supostamente foi escrita ainda era de alta repressão, com a vigência do Ato Institucional número 5, o mais duro do regime, sendo pouco provável que um militar tenha feito essa confissão com registro em cartório. 

Pádua Fernandes destaca ainda que um dos nomes citados no documento é o mesmo de um personagem do filme Zuzu Angel, de 2006, de Sergio Rezende.

O documento tem outras inconsistências. A carta enviada à mãe de Stuart, a estilista Zuzu Angel, também vítima da ditadura militar, era na verdade de Alex Polari, outro preso político que era vizinho de cela de Stuart e narrou a Zuzu o que teria acontecido com seu filho quando foi preso em 14 de maio de 1971.

Já o documento anunciado no leilão afirma que Stuart teria sido preso no dia 15 de maio daquele mesmo ano. 

Stuart Edgard Angel Jones era estudante de economia e militante do MR8, o movimento que lutou contra a ditadura militar no Brasil.

Hildegard Angel disse que se emocionou ao saber da existência do documento, mas também questionou a possibilidade de ser algo fraudado. 

O proprietário da suposta carta, que preferiu não se identificar, disse ser colecionador e comercializar documentos e fotografias antigas; e que a peça é material proveniente de garimpeiros catadores, adquirida na Praça XV, no centro do Rio de Janeiro. 

O Ministério dos Direitos Humanos afirmou em nota que documentos que contém indícios e provas sobre violações de direitos humanos são parte fundamental na garantia do direito à verdade. E que eles dizem respeito não apenas às famílias atingidas pela violência autoritária, mas a toda população brasileira.

* Com a colaboração de Rafael Cardoso e Vladimir Platonow.

x