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Direitos Humanos

"Marielle hoje é do mundo", diz mãe da vereadora assassinada em 2018

A "cria da Maré" lutava por outro tipo de segurança pública no RJ
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Carolina Pessoa - Repórter da Rádio Nacional
15/03/2023 - 07:30
Rio de Janeiro
Distribuição de réplicas de placas de rua com nome da Marielle Franco , em frente à Câmara, na Cinelândia, marca o dia em que o assassinato da vereadora completa sete meses.
© Fernando Frazão/Agência Brasil

Cria da Maré. Assim Marielle Franco se apresentava e se tornou conhecida. Nascida no complexo de favelas da Zona Norte do Rio de Janeiro, em 1979, desde criança, ela já chamava a atenção por seu interesse em temas coletivos, responsabilidade e capacidade de liderança. Começou a trabalhar cedo e participava ativamente da vida da família, de acordo com a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, irmã mais nova de Marielle.

“A partir de 11 anos de idade ela já era estagiária e ajudava a minha mãe, não só a me levar e me pegar do vôlei, da escola, mas também ser uma pessoa responsável de ir a banco, resolver coisas para a minha mãe desse nível assim, porque ela já tinha essa sagacidade assim desde pequena de liderar e fazer muitas coisas”.

Junto com as responsabilidades, veio também o desejo de ajudar o outro, como conta Marinette Silva, mãe de Marielle e Aniele. 

"Esse foco de minoria, de ter essa coisa social muito presente desde muito nova foi sempre muito presente na vida dela, né? Por conta até da história da gente, né? Eu fiquei 9 anos trabalhando fora do Rio de Janeiro e ela assume totalmente a vida da Ana, a vida da casa em si, então essa parte social dela de comunicação, de querer ajudar o outro, foi muito cedo né?"

Mas Anielle Franco diz que a militância em direitos humanos começou quando Marielle ingressou em um pré-vestibular comunitário e perdeu uma amiga, durante um tiroteio entre policiais e traficantes.

“Ela ficou muito comovida, e ela ficou muitos dias após esse assassinato falando que ela voltaria para a Maré e mudaria aquele lugar”.

A irmã conta ainda que a maternidade, aos 19 anos, também influenciou Marielle a lutar pelos direitos das mulheres, e a debater esse tema nas favelas. Mesmo com o desafio de criar a filha Luyara tão jovem, ela se formou socióloga pela PUC-Rio, e alguns anos depois, virou mestra em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense. Sua dissertação, que foi publicada em livro, debateu uma das principais políticas de segurança pública do estado do Rio com o tema: “UPP: a redução da favela a três letras”.

Na eleição de 2006, Marielle integrou a equipe de campanha que elegeu Marcelo Freixo à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. A partir daí, passou a trabalhar como assessora parlamentar do deputado por dez anos. Seu protagonismo a levou a ser nomeada como coordenadora da Comissão de Defesa dos Diretos Humanos e Cidadania da ALERJ, onde lutou pelos direitos de diferentes grupos sociais.

O próximo passo seria deixar os bastidores para assumir uma função pública. Mas o ingresso na vida política gerou certa resistência na família. Quem explica é a atual ministra Anielle Franco, que era professora, e acabou entrando na vida pública após a morte da irmã

“Minha mãe não quis, minha mãe não queria, minha mãe essa mulher sábia, nordestina, que está aí com seus 72 anos. Minha mãe olhou e disse, esse lugar não é pra você, eles não merecem você. Por mim você não iria. Só que a gente tem um combinado na família, que eu aprendi desde muito cedo, que é, mesmo quando nós não concordarmos com algo que você faça, a gente vai apoiar”.

Ainda assim, em 2016, Marielle disputa sua primeira eleição, pelo PSOL, e torna-se a quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro, com mais de 46 mil votos.

Mulher, negra, mãe, favelada e homossexual, Marielle defendeu em seu mandato temas como justiça racial, igualdade de gênero, saúde, educação pública e direito à vida nas favelas. Seus posicionamentos contundentes e a morte trágica a tornaram conhecida, e reconhecida, nacional e internacionalmente. Hoje, a primogênita de dona Marinete, é uma referência para a política mundial

"Marielli hoje é do mundo. Marielli hoje é ícone da história, é ícone de resistência, e de uma mulher que superou o tempo dela."

A data de morte da vereadora, 14 de março, inclusive se tornou um marco. Somente no Estado do Rio de Janeiro, nesta data são celebrados o Dia de Luta Contra o Genocídio da Mulher Negra e o Dia Estadual das Defensoras e dos Defensores de Direitos Humanos, nome que melhor pode descrever o que Marielle foi em vida.

Ouça e baixe a reportagem no player do topo da página. Se preferir, ouça pelo Spotify ou acompanhe pelo YouTube a versão com acessibilidade.

A Radioagência Nacional publicou três reportagens sobre os cinco anos dos assassinatos da ex-vereadora do PSOL-RJ, Marielle Franco, e de seu motorista Anderson Gomes. O fato ocorreu em 14 de março de 2018 e, até o momento, segue sem conclusão.

  1. Após 5 anos das mortes de Marielle e Anderson, investigação continua
  2. "Marielle hoje é do mundo", diz mãe da vereadora assassinada em 2018
  3. Quem mandou matar Marielle?: pergunta persiste após 5 anos do crime

 

*Com colaboração da TV Brasil

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