Após a morte de mais uma liderança negra, a polícia da Bahia ainda busca identificar os dois homens que mataram, a Ialorixá Maria Bernadete Pacífico, em Simões Filho, Região Metropolitana de Salvador. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do estado, o crime ocorreu na noite dessa quinta-feira (17), no Quilombo Pitanga dos Palmares, quando “dois homens, usando capacetes, entraram” na casa dela e efetuaram os disparos.
Momentos após o crime, um familiar dela, de nome preservado por segurança, chegou a enviar mensagens de áudio para pessoas conhecidas, pedindo ajuda.
Mãe Bernadete era uma liderança na luta por direitos. E a morte dela é considerada uma perda irreparável, para a ativista do movimento de mulheres negras da Bahia e do Nordeste, Valdecir Nascimento. Segundo ela, trata-se de um crime de ódio e o caso precisa investigado na esfera federal, já que Mãe Bernadete sofria ameaças e perseguições.
A Ialorixá Mãe Bernadete era a Coordenadora Nacional da Conaq, Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas e ex-secretária de Igualdade Racial do município. Após o assassinato, a entidade manifestou pesar pela perda e lembrou a dedicação de Mãe Bernadete “à preservação da cultura, da espiritualidade e da história de seu povo” e que a memória dela continue a inspirar novas gerações por um mundo onde todas as vozes sejam ouvidas, cultura e religiões, respeitadas.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco disse que a pasta enviou, junto com o ministério de Direitos Humanos, uma comitiva, para uma reunião presencial, com os órgãos do estado da Bahia e para atendimento às vítimas e familiares. Ela lamenta a morte de mais uma liderança negra quilombola.
A pasta da Igualdade Racial informou, ainda, que vai convocar uma reunião extraordinária do GT de Enfrentamento ao Racismo Religioso para que providências sejam tomadas pelos ministérios.
Há seis anos, também foi assassinado o filho de Mãe Bernadete. Também liderança quilombola, Flávio Pacífico dos Santos, o Binho do Quilombo. Segundo a Conaq, Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas, o caso, “como o de tantas outras lideranças quilombolas, continua sem resposta e sem justiça”.
De acordo com o Mapa de Conflitos, da Fiocruz, o quilombo Pitanga dos Palmares, que fica a menos de 50 quilômetros de Salvador, vive conflitos a partir de diversos pontos: ação de governos, construções e explorações que ferem o regime tradicional de uso e ocupação do território.
A secretaria de Segurança Pública da Bahia busca identificar os envolvidos no crime e pede que quem tiver qualquer informação, faça a denúncia anônima no telefone 181. Nas redes sociais, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues relatou “indignação” pelo ocorrido e que determinou firmeza nas investigações. O Presidente Lula manifestou pesar e preocupação; e disse que o governo aguarda uma investigação rigorosa.
Há cerca de dois meses, a Conaq coordenou em Brasília, o segundo Encontro Nacional de Mulheres Quilombolas. Entre elas, esteve Mãe Bernadete , que recorreu à ancestralidade para levar uma mensagem de paz às participantes.
Ao lamentar a morte dela, a Conaq diz: “Mãe Bernadete, agora silenciada, era uma luz brilhante na luta contra a discriminação, o racismo e a marginalização”.