Os casos de perseguição a jornalistas que investigam corrupção ou falam de protestos e campanhas eleitorais aumentaram em todo o mundo, de acordo com um relatório apresentado pela Unesco, ligada às Nações Unidas. A pesquisa estudou 120 casos, durante 20 anos, de acusações incorretas contra veículos de notícias e profissionais do setor, em vários países. E percebeu que, entre 2019 e 2022, houve um aumento mundial de denúncias infundadas de supostas irregularidades, como fraude, lavagem de dinheiro e evasão fiscal.
60% dos casos de assédio a jornalistas com o uso indevido de legislações fiscais ou financeiras ocorreram ao longo desses três anos. Isso significa uma média de acusações falsas 8 vezes maior do que nos 17 anos anteriores.
Segundo o relatório, essa via de intimidação foi explorada principalmente por autoridades estatais, que buscam atacar não mais o conteúdo das reportagens, mas a credibilidade dos jornalistas. Quem explica é Guilherme Canela, que é chefe da Seção da Liberdade de Expressão e Segurança dos Jornalistas na Unesco.
"Quando você acusa um jornalista por aquilo que ele ou ela diz, a sociedade tem a chance de olhar para o conteúdo e falar 'não, mas esse conteúdo é correto'. Agora, quando você acusa um jornalista de lavagem de dinheiro, a sociedade pode pensar 'bom, mas isso aí é outra coisa, isso aí é crime'. Sem perceber que isso é parte de uma estratégia, porque essas acusações, segundo o que essas tendências estão apontando, são acusações infundadas."
A Unesco aponta que em alguns contextos, correspondentes estrangeiros têm sido acusados de envolvimento em atividades terroristas. Outras perseguições a jornalistas incluem multas e congelamento de ativos, levando à falência e à prisão por até 15 anos. Guilherme Canela argumenta que as consequências não atingem apenas o profissional, mas toda a sociedade.
"As consequências vão desde cerceamento individual da liberdade de expressão, que podem gerar efeitos de autocensura, por exemplo, até consequências coletivas, como o descrédito do jornalismo com instituição relevante para nossa sociedade."
Entre as recomendações da Unesco para combater esse problema está a revisão das legislações financeiras e fiscais, para que deixem de ser usadas para perseguir jornalistas e veículos de imprensa.