Mulheres lutam hoje por suas vítimas, contra a impunidade e o racismo

Movidas pela dor, pelo luto e pela injustiça, mulheres do Brasil tiveram que ir às ruas, órgãos públicos, veículos de imprensa e eventos, em busca da verdade. Histórias como a de Eunice Paiva, retratada no filme “Ainda Estou Aqui”, que se repetem em diferentes momentos e lugares. Eunice lutou pela verdade sobre o desaparecimento do marido Rubens Paiva, durante a ditadura militar no Brasil. O mesmo ocorreu com outras mulheres, mães, irmãs e filhas, que choraram a perda, a saudade e a amarga sensação de injustiça.
Uma dor parecida une a história de Eunice Paiva à de Ana Paula Oliveira, fundadora do grupo Mães de Manguinhos, na luta pela justiça, e principalmente contra a violência policial, na atualidade. Ana Paula tem 48 anos, e é moradora da favela de Manguinhos, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Há 6 anos dedica a vida em busca da condenação do policial que atirou no filho Jonathan Oliveira, de 19 anos, que acabou morrendo, após não resistir aos ferimentos.
Histórias de busca por respostas: aos 81 anos, a professora Victória Grabois conta que o marido, o pai e o irmão, foram desaparecidos políticos, entre 1971 e 1973, na Guerrilha do Araguaia, movimento armado contra a repressão. A dor fez de Victória uma das fundadoras do grupo Tortura Nunca mais, no Rio de Janeiro, há 40 anos.
Ela lamenta ter perdido o otimismo ao descobrir o que, de fato, aconteceu com os três familiares, na ditadura, e cobra ação do Estado brasileiro. Ao se lembrar das mães, filhas e esposas da Ditadura, a professora lembra de mulheres de hoje, como Ana Paula, que lidam com a violência do Estado contra familiares.
Para Victória, a atual luta de mães e mulheres de vítimas da violência, como a policial, é um reflexo de outros agravantes: o racismo e a pobreza. O que torna, na avaliação da professora, a luta “muito mais difícil” e faz delas “vítimas” da democracia brasileira.
A Coordenadora Executiva de Memória, Verdade e Justiça do Instituto Vladimir Herzog, de defesa dos Direitos Humanos, Lorrane Rodrigues, explica que o impacto de pensar a ditadura militar no contexto atual, é que, "o Estado continua produzindo essas mulheres”.
Assim como Ana Paula, do Mães de Manguinhos, tantas outras integram movimentos em busca de justiça, condenação, responsabilização ou até mesmo o direito de velar corpos jamais encontrados.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024 mostra que, no ano anterior, policiais assassinaram mais de 6,3 mil pessoas, sendo 88% negras, e 99% homens. Os dados comprovam que a busca por justiça continua sendo a causa de muitas mulheres.
*Com a colaboração de Luís Cláudio Ferreira e sonoplastia de Jailton Sodré




