No Brasil, quase 53% das pessoas são negras, mas essa proporção não se repete em espaços como as universidades.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mostra que os negros representam quase 29% dos estudantes de mestrado e doutorado no país. São 112 mil.
A presença de negros na pós-graduação aumentou em relação a 2001, quando eram 48 mil. Ainda assim, são minoria diante dos mais de 270 mil estudantes brancos.
Para a coordenadora da ONG Criola e doutora em Comunicação e Cultura, Jurema Werneck, apesar de o ingresso de estudantes negros ter aumentado, a participação desses pesquisadores nas universidades ainda é restrito.
A ausência de estudantes e de professores negros impacta também na produção de conhecimento. Não são raros os casos em que estudantes têm dificuldade em trabalhar na academia com temas ligados a questões raciais.
A mestre em educação Verônica Diano Braga conta que ainda na graduação não conseguiu nenhum professor que a orientasse na pesquisa sobre O rap para a juventude de periferia. Como não queria abrir mão do tema, pesquisou, escreveu e apresentou o trabalho de conclusão de curso por conta própria. Hoje, mesmo sendo professora universitária é vítima de racismo.
Assim como Vera, a psicanalista e professora aposentada da Universidade de Brasília Maria de Lourdes Teodoro, foi vítima do preconceito. Ela graduou-se em 1972 e ao tentar ingressar no mestrado, sugeriram que ela procurasse outra instituição. Lourdes foi para a França onde fez mestrado e doutorado. Quando voltou ao Brasil, ainda encontrou as portas fechadas.
O presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros, Paulino Cardoso, explica que a pós-graduação é um espaço de construção de conhecimento e de onde saem os líderes do país. Sem a presença de negros, a sociedade toda perde em termos de diversidade e qualidade.
A fim de formar mais pesquisadores negros, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) vai apresentar até o final de junho uma proposta de cotas para a pós-graduação. Além de promover o ingresso, a Seppir pretende incentivar linhas de pesquisa étnico-raciais e Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, presente em universidades públicas. A proposta ainda deverá ser debatida pelo governo antes de ser implementada em todo o país.