O sistema educacional brasileiro passou por diversos avanços, nos últimos anos, mas as desigualdades ainda são nítidas, em relação à classe social e à raça. É o que aponta o estudo “A Educação no Brasil: uma Perspectiva Internacional”, elaborado pela OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, entidade intergovernamental, que integra 38 países.
No Brasil, foi analisado das creches ao ensino superior, em parceria com a entidade Todos Pela Educação. Mas, os avanços identificados não conseguiram zerar as diferenças na qualidade e rendimento do ensino e da aprendizagem dos estudantes brasileiros. Para isso, surgem dois grandes desafios, segundo o líder de Políticas Educacionais do Todos pela Educação, Gabriel Corrêa. São necessários, segundo ele, uma agenda de curtíssimo prazo para mitigar os efeitos nocivos da pandemia por conta do fechamento prolongado das escolas, e outro, a longo prazo que de políticas mais estruturantes da educação que possam oferecer mais qualidade do que mesmo antes da pandemia.
Segundo Gabriel Corrêa, o estudo mostra que foram analisadas, também, as políticas priorizadas, na atualidade, pelo Ministério da Educação. “Para um governo federal que tanto valoriza a OCDE praticamente nada do que a organização recomenda para a educação brasileira está no escopo de prioridades da atual gestão do Ministério da Educação. O relatório reforça que há uma desconexão muito grande entre o que o atual governo federal tem colocado como prioridade e aquilo que os atores educacionais apontam que deveriam ser os caminhos para melhorar a qualidade e a equidade da educação no Brasil”, afirma Corrêa.
O levantamento mostra que o acesso ao ensino superior ainda é “altamente desigual”, mas se tornou mais acessível, nos últimos anos, devido a políticas como Fies, Prouni e sistema de cotas. Os estudantes de baixa renda que frequentam a universidade pública passaram de 7%, em 2002, para 17%, em 2011. Nas privadas, subiu de menos de 3%, para 10%, no mesmo período. Em 2018, 36% dos brancos estavam cursando graduação ou já estavam formados, enquanto entre os negros, era a metade disso: 18%.
No ensino infantil, a taxa de crianças até três anos de idade, matriculadas, aumentou de 10%, em 2010, para 24%, em 2018. Apesar disso, o atendimento é considerado baixo e pouco acessível às famílias em vulnerabilidade social.
O estudo aponta para a desigualdade social como fator que diferencia o acesso à educação, sobretudo de qualidade. A questão racial é considerada marcante, segundo a OCDE. A conclusão do ensino médio foi alcançada, em 2018, por 76% dos jovens brancos, entre 18 e 29 anos. Entre os negros, apenas 60%.
O Ministério da Educação não respondeu sobre o estudo, até o fechamento desta reportagem. Embora a lacuna entre o Brasil e os países da OCDE tenha diminuído, o levantamento aponta que o país ainda está longe de atingir os níveis recomendados pela organização.