Dizem as fontes mostra que jornalismo dialoga com educação midiática
Neste primeiro episódio do podcast Dizem as fontes, mostramos como a educação midiática e o jornalismo são próximos. Afinal, com as plataformas digitais, todos somos potenciais comunicadores, produtores de conteúdo e disseminadores de informação. Por isso a importância da educação midiática, que é a formação crítica da população para que saiba distinguir o que é uma informação verdadeira e o que é uma informação falsa, para que saiba como é produzida uma notícia e qual é o papel do jornalismo.
Assim, no meio de tantas informações, o jornalismo profissional parece perder espaço. Segundo a última edição, de 2023, do relatório digital News Report, elaborado anualmente pelo Instituto Reuters e pela Universidade de Oxford, a confiança da população na imprensa vem caindo ao longo dos anos. Em 2015, 62% dos brasileiros confiavam na mídia. Em 2023, esse índice caiu para 43%. Entre todos os países participantes, a média de confiança foi de 40%. A Finlândia registrou o maior índice, 69%, e a Grécia, o menor, 19%.
O jornalismo não apenas sofre uma perda de credibilidade, mas também ataques bem direcionados. Segundo a Fenaj, Federação Nacional dos Jornalistas, o número de ataques à categoria e a veículos de imprensa em 2022 chegou a 376. Embora esse número represente uma redução de cerca de 12% em relação a 2021, o relatório Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil mostra que aumentaram as formas de violência mais diretas e graves, como as ameaças, hostilizações e intimidações, com 77 casos, o que representa um crescimento de mais de 130%; e de agressões físicas, com 49 casos, que representa um aumento de quase 90% em relação ao ano anterior. Em 2023, quando no Brasil Jair Bolsonaro deixa a presidência, os ataques tiveram uma redução de cerca de 50%. Em meio a esse cenário, qual é o papel dos jornalistas e do jornalismo?
Para Patrícia Blanco, presidente executiva e do Conselho Diretor do Instituto Palavra Aberta - que têm como objetivos promover e defender a liberdade de expressão, liberdade de imprensa e o direito à informação - o jornalismo é fundamental para a educação midiática e a educação midiática é fundamental para o jornalismo. Principalmente para auxiliar o cidadão a entender o papel do jornalismo para a sociedade democrática:
"A gente tem visto uma queda muito grande, por N motivos, né, da credibilidade do jornalismo, da forma como as pessoas consomem a informação. Mudança total no hábito de consumo do cidadão em relação a notícias. E há verdadeiras campanhas para descredibilizar o jornalismo. Então, a educação midiática, no meu ponto de vista, é importantíssima para criar audiências críticas que saibam reconhecer o papel do jornalismo para a sociedade. Então, eu vejo que o papel do jornalista é reconhecer que é necessário que se tenha educação midiática, e o papel dos veículos é adotar e apoiar projetos de educação midiática para a formação de audiências críticas."
O Bruno Ferreira, jornalista e professor que atua como consultor em educação midiática, define que o jornalista, enquanto comunicador, é um educador. A imprensa, ainda que não tenha essa finalidade pedagógica, os materiais de imprensa educam, porque informam, conformam visões de mundo, ajudam as pessoas a entender a realidade. O papel de um professor é semelhante, nesse sentido, ao papel de um jornalista:
"Eu acho que trazer a discussão sobre temas da cultura digital, no sentido de elucidar as pessoas sobre, por exemplo, o problema que envolve os algoritmos, que restringem o acesso à informação nas plataformas digitais ou condicionam a experiência dos usuários, explicando para as pessoas o que é inteligência artificial, o que é desinformação, como a gente faz para ser curador das próprias informações. O jornalista que constrói um material, uma reportagem com esses elementos educativos, ele também contribui para a educação midiática".
Este é o podcast Dizem as Fontes, uma parceria entre a Radioagência Nacional e a Agência Brasil. Este projeto começou na academia, fruto do mestrado profissional de Mariana Tokarnia, na área de mídias criativas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ.
Você também pode ouvir na Radioagência Nacional outros podcasts, como Ciência: mulheres negras dão o tom; e Grandes Invisíveis. Todos os capítulos estão disponíveis nos tocadores de áudio e no site da Radioagência Nacional, um serviço público de mídia da EBC.
PODCAST DIZEM AS FONTES - Episódio 1 - A educação midiática
VINHETA: Dizem as fontes - jornalismo e educação midiática
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Episódio 1 - A educação midiática
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MARIANA: Quando eu estava no começo do ensino fundamental, o Correio Brasiliense, um dos principais jornais da minha cidade, Brasília, visitou a escola onde eu estudava. Eu não lembro muito bem quem estava lá, se era uma ou um repórter, se era alguma ou algum chefe. Lembro que essas pessoas explicaram como funcionava um jornal e nos apresentaram um caderno dedicado às crianças. Eu fiquei encantada com aquilo. Naquele dia, eles dividiram a turma em grupos e pediram que nós desenhássemos um mascote para o caderno. O melhor desenho seria selecionado e publicado junto com os nomes dos autores. Eu não sei se tenho uma memória criada ao longo dos anos, mas eu tenho certeza que meu grupo desenhou um lobo-guará, que foi, no final das contas, o mascote escolhido. Mas os créditos não foram nossos. Claro, outras crianças devem ter desenhado também um lobo-guará. Afinal, é um animal típico do cerrado, onde está Brasília, e é bem brasileiro. Chegou até a ser escolhido recentemente para nota de 200 reais.
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MARIANA: Eu sou Mariana Tokarnia, repórter da Agência Brasil. O projeto Dizem as Fontes é fruto do meu mestrado profissional em mídias criativas na Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ.
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MARIANA: Esse foi, mesmo sem eu ter a menor ideia na época, o meu primeiro contato, de alguma forma, com educação midiática. Nesse episódio, vamos falar sobre o que é esse termo que tem ganhado espaço não apenas no Brasil, mas no mundo. E não só ele. Alfabetização midiática, educomunicação. E, para isso, vamos conversar com quem sabe bastante desse assunto.
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BRUNO: Eu sou Bruno Ferreira. Eu sou jornalista e professor. Atualmente, trabalho como consultor em educação, especificamente em educação midiática. Eu sou um homem branco, cabelos castanhos escuros, curtos, uso barba, bigode.
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PATRÍCIA: Sou Patrícia Blanco, presidente executiva e do Conselho Diretor do Instituto Palavra Aberta. Sou castanho claro, vamos dizer assim, ex-loira, eu brinco, olhos verdes, pele branca.
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MARIANA: Explica um pouquinho o que é o Instituto Palavra Aberta, como é que surge o Instituto, né, e como é que é o trabalho de vocês.
PATRÍCIA: O Palavra Aberta é uma entidade sem fins lucrativos que nasceu há quase 15 anos atrás, com o objetivo de promover e defender a liberdade de expressão, liberdade de imprensa, direito à informação, direito ao cidadão de acessar informações públicas, informações de qualidade. E, mais recentemente, nós incluímos, né, no rol de objetivos do Palavra Aberta, a promoção e disseminação da importância da educação midiática no Brasil. Nós entendemos que, primeiro, né, o direito à liberdade de expressão é um direito fundamental, um direito humano fundamental, previsto na Declaração Mundial de Direitos Humanos, e que, para que o cidadão possa exercer plenamente essa liberdade de expressão, ele tem que entender o universo informacional no qual ele está inserido. E aí vem a educação midiática que ajuda nesse entendimento, né, do ambiente que vivemos, do ambiente conectado, cada vez mais conectado, nós não vamos voltar atrás, e da sua responsabilidade enquanto consumidor de informação, mas, principalmente, enquanto produtor de conteúdo, uma vez que a tecnologia permite que todos nós, hoje, sejamos, além de produtores, disseminadores de informação em tempo real, 24 horas por dia e com poder e uma responsabilidade que, muitas vezes, o cidadão não consegue dimensioná-la.
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MARIANA: Em um mundo conectado, recebemos informações o tempo todo.
EFEITO SONORO DE WHATSAPP 🎶
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MARIANA: Em meio a tantas informações, jornalismo profissional parece perder espaço. Segundo a última edição, de 2023, do relatório digital News Report, elaborado anualmente pelo Instituto Reuters e Universidade de Oxford, a confiança da população na imprensa vem caindo ao longo dos anos. Em 2015, 62% dos brasileiros confiavam na mídia. Em 2023, esse índice caiu para 43%. Entre todos os países participantes, a média de confiança foi de 40%. A Finlândia registrou o maior índice, 69%, e a Grécia, o menor, 19%.
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MARIANA: O jornalismo não apenas sofre uma perda de credibilidade, mas também ataques bem direcionados.
ÁUDIOS DE REPORTAGENS E DE AGRESSÕES A JORNALISTAS: A agressão abominável que aconteceu ontem contra a jornalista da rede Globo, Délis Ortiz... A Folha é um lixo! A Folha é um lixo! Durante a realização deste exame... Globo lixo! Globo lixo! Um repórter cinematográfico da REIC TV, afiliado da Record TV, foi agredido no Paraná enquanto trabalhava.
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MARIANA: Segundo a Fenaj, Federação Nacional dos Jornalistas, o número de ataques à categoria e a veículos de imprensa em 2022 chegou a 376. Embora esse número represente uma redução de cerca de 12% em relação a 2021, o relatório Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil mostra que aumentaram as formas de violência mais diretas e graves, como as ameaças, hostilizações e intimidações, com 77 casos, o que representa um crescimento de mais de 130%. E de agressões físicas, com 49 casos, que representa um aumento de quase 90% em relação ao ano anterior. Em 2023, quando no Brasil Jair Bolsonaro deixa a presidência, os ataques tiveram uma redução de cerca de 50%. Para Patrícia, esse cenário merece atenção.
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PATRÍCIA: Por muitos anos, o jornalismo e os veículos de comunicação, eles acreditavam que a audiência, ela já estava lá, já estava dada, né. Você não precisava explicar como o jornalismo era feito, como que a imprensa atuava, como que se chegava numa pauta. Então, eu sempre brinco, a gente precisa abrir a cozinha dos veículos de comunicação e do jornalismo para mostrar como o jornalismo é feito. Uma pauta não nasce da cabeça de uma pessoa e falar hoje eu vou fazer uma matéria contra fulano de tal, ou hoje eu vou fazer uma matéria para ferrar fulano de tal. Não, existem critérios, existem métodos, existem formas de você apurar conteúdos que a audiência não sabe, né. E numa guerra por atenção, se você não escrever, não for transparente, não for claro nesse processo e ajudando também a educar esse cidadão para valorizar esse trabalho, o cidadão não vai pagar pelo conteúdo, vai deixar de consumir esse conteúdo e vai pular para outros conteúdos aí que estão, que chamam muito mais atenção.
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MARIANA: A formação crítica da população para que saiba distinguir o que é uma informação verdadeira e o que é uma informação falsa, ou em inglês as famosas fake News, para que saiba como é produzida uma notícia ou qual o papel do jornalismo, é o que damos o nome de educação midiática, como explicam Bruno e Patrícia.
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BRUNO: Educação midiática é um conjunto de competências para o cidadão, a cidadã, acessar, produzir, difundir e participar da sociedade a partir das mídias, né. Seja como uma pessoa receptora, crítica de conteúdos midiáticos, que vai ser capaz de analisar diferentes critérios da produção de um conteúdo, a intencionalidade, a autoria, a credibilidade. Vai ser capaz de fazer buscas por informação e analisar resultados de busca. E também vai se ver e refletir sobre a sua condição de autora de conteúdos, uma vez que, sobretudo nas mídias digitais, nas plataformas digitais, qualquer pessoa com acesso à internet não apenas recebe conteúdos, mas também produz conteúdos, né, interage com outros conteúdos. E assim participa da sociedade também em âmbito digital. Então como fazer tudo isso de maneira responsável? Então a educação midiática, ela defende o desenvolvimento dessas competências, sobretudo no âmbito formal de educação, educação básica, educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, para que os estudantes se tornem cidadãos plenos nessa sociedade que é midiática e é hiperinformacional.
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PATRÍCIA: Bom, a educação midiática, na nossa visão, é baseada muito em conceitos da escola americana, da media education literacy, da escola inglesa, de David E. Buchanan e também da escola europeia. Nós fizemos uma definição brasileira, vamos dizer assim, da educação midiática. Então a educação midiática é você saber acessar, interpretar, analisar, criar e participar desse ambiente informacional que a gente vive. Quer dizer, não adianta só você saber acessar a informação, você precisa saber analisá-la, saber interpretar aquela informação, saber o propósito daquela informação, saber o que ela quer de mim, qual o contexto que aquela informação foi recebida, saber diferenciar gêneros textuais, saber, por exemplo, o que é uma notícia, o que é um artigo de opinião, saber verificar a fonte, o propósito, o objetivo daquela informação. Tudo isso faz parte, né, do desenvolvimento da análise crítica da informação e da notícia, por exemplo. E a gente trabalha também com outros dois eixos, além da leitura crítica. A gente defende que a educação midiática dá instrumentos para que o cidadão possa produzir melhor, se comunicar melhor, ajudando, né, a partir do momento que ele entende o seu papel nesse ambiente informacional e também ele aprende a lidar com as ferramentas, ele se comunica melhor. E o terceiro eixo é o eixo da participação cidadã, né. No fato de você, ao saber ler criticamente, ao saber produzir conteúdo com qualidade e responsabilidade, você atua, né, de forma responsável e ética num ambiente informacional e democrático.
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MARIANA: Não é de hoje que educação e comunicação andam juntas. Na América Latina, outro termo merece atenção, a educomunicação.
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BRUNO: A educomunicação, enquanto conceito, ela nasce justamente dessa análise de como a educação popular e não a educação formal, né, no continente latino-americano, países ibero-americanos, como que a educação popular, como os movimentos sociais, se apropriam da comunicação e nesse sentido também de recursos midiáticos pra promover discussões, pra promover uma educação na perspectiva que o Paulo Freire defende, de uma educação libertadora, de uma educação crítica, problematizadora, né. E aí, no final dos anos 90, o conceito de educomunicação se estrutura, olhando muito para o que a sociedade civil e os movimentos sociais populares estão produzindo e passa, então, a defender que essa experiência de educação e comunicação populares existentes e iniciativas da sociedade civil, pudessem também penetrar, mais objetivamente, a escola. Como que a educomunicação conseguiu chegar na escola? Não foi como a educação midiática está propondo, que seja de uma maneira transversal, transdisciplinar, curricular, mas fosse, talvez, em projetos extracurriculares, em momentos paralelos à aprendizagem formal, mas ainda assim em ambiente formal. Seja colocando os estudantes na condição de comunicador, de protagonista, incentivando os estudantes a exercer o seu direito humano à comunicação, enquanto autores, mas dialogando com outras vertentes do campo, como a alfabetização midiática informacional, que é uma vertente da Unesco, que também vem se consolidando desde os anos 80, ou seja, até anteriormente mesmo, a educomunicação. Mas a educomunicação é um conceito brasileiro, latino-americano, que observa esse lastro sócio-histórico-cultural do nosso continente e de como a educação popular, que é uma educação de resistência, de rompimento com a cultura do silêncio, tem se estruturado a partir de processos e produtos comunicacionais, né.
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MARIANA: No Brasil, a educação midiática ganhou força até mesmo nas políticas públicas. Práticas de educação midiática estão previstas na BNCC, Base Nacional Comum Curricular, documento que orienta a elaboração de todos os currículos das escolas do país e define o mínimo que deve ser aprendido em cada etapa de ensino. A BNCC começou a ser implementada em 2020. Além disso, o Brasil passa a ter, em 2023, uma Secretaria de Políticas Digitais, ligada à SECOM, Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Estão vinculados à Secretaria de Políticas Digitais, por sua vez, o Departamento de Promoção da Liberdade de Expressão e o Departamento de Direitos na Rede e Educação Midiática, com o objetivo de criar, para o país, uma estratégia brasileira de educação midiática. Em meio a esse cenário, qual é o papel dos jornalistas e do jornalismo?
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PATRÍCIA: Bom, o jornalismo é fundamental para a educação midiática e a educação midiática é fundamental para o jornalismo. Principalmente para auxiliar o cidadão a entender o papel do jornalismo pra sociedade democrática. A gente tem visto uma queda muito grande, por N motivos, né, da credibilidade do jornalismo, da forma como as pessoas consomem a informação, mudança total no hábito de consumo do cidadão em relação a notícias e há verdadeiras campanhas para descredibilizar o jornalismo. Então, a educação midiática, no meu ponto de vista, é importantíssima para criar audiências críticas que saibam reconhecer o papel do jornalismo para a sociedade. Se nós não investirmos na educação midiática para que o cidadão possa entender e volte a respeitar o jornalismo que é feito pelos veículos de comunicação, por jornalistas profissionais que seguem critérios, métodos de apuração, que trazem a informação o mais perto e o mais próximo possível da verdade factual, daquilo que está sendo visto naquele momento, nós vamos ficar fazendo jornalismo para ninguém, né. Então, eu vejo que o papel do jornalista é reconhecer que é necessário que se tenha educação midiática e o papel dos veículos é adotar e apoiar projetos de educação midiática para a formação de audiências críticas.
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BRUNO: Então, o jornalista, enquanto comunicador, é um educador. A imprensa, ainda que não tenha essa finalidade pedagógica, os materiais de imprensa educam, porque informam, conformam visões de mundo, ajudam as pessoas a entender a realidade. O papel de um professor é semelhante, nesse sentido, ao papel de um jornalista. E, na prática laboral do jornalista, digamos assim, o jornalista raiz, né, aquele que produz matéria, está na redação. Eu acho que trazer a discussão sobre temas da cultura digital, no sentido de elucidar as pessoas sobre, por exemplo, o problema que envolve os algoritmos, né, que restringem o acesso à informação nas plataformas digitais ou condicionam a experiência dos usuários, explicando para as pessoas o que é inteligência artificial, o que é desinformação, como a gente faz para ser curador das próprias informações, né, o jornalista que constrói um material, uma reportagem com esses elementos educativos, ele também contribui para a educação midiática.
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MARIANA: Na década de 1990, quando o Jornal da Minha Cidade entra na minha sala de aula e explica como funciona o jornal e como é o trabalho dos jornalistas, o que está ocorrendo ali é a educação midiática. Claro que havia o interesse da empresa de comunicação, que queria formar novos leitores. E, claro, que essa não é a única forma de se fazer educação midiática. Mas certamente me aproximou do jornalismo. Afinal, é preciso conhecer para confiar. Desde 2023, a educação midiática passa a ser política pública nacional.
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MARIANA FILIZOLA: Meu nome é Mariana Filizola, eu sou coordenadora geral de educação midiática aqui na Secretaria de Políticas Digitais da SECOM, que é a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Eu sou uma mulher morena, de cabelos pretos, estou usando óculos com aros escuros.
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MARIANA FILIZOLA: Somos uma secretaria nova, que foi criada agora no governo Lula III. A gente tem como objetivo pensar essas políticas para uma educação midiática muito em parceria com o Ministério da Educação e o Ministério de Direitos Humanos.
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MARIANA: Desde que tomou posse, a equipe de Mariana tem trabalhado para construir uma estratégia nacional para a educação midiática. Ou seja, o governo federal decidiu tomar as rédeas e definir para onde o país vai olhar em relação a essa educação para as mídias.
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MARIANA FILIZOLA: O Brasil seguia muito uma tendência que é comum em várias partes do mundo, pelo que a gente tem tido de compreensão conversando com parceiros internacionais, que é de que o início dessa pauta sempre foi muito ligada a iniciativas da sociedade civil. Então, sempre foi muito pautado a partir das organizações, né. E isso só foi formalizado a nível de governo agora, nessa gestão. Então, as organizações sempre deram muita força para essa pauta, e a gente tem algumas aí que têm expertise de muitos anos, né. Apesar de a gente ter visto, sim, experiências em alguns territórios já de um amadurecimento em relação a políticas públicas, mas eram experiências muito específicas dentro do contexto de algumas gestões e projetos tocados por indivíduos muito afeitos à pauta.
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MARIANA FILIZOLA: Esse tem sido o nosso trabalho desde o ano passado, de desenhar essas políticas, pensando muito em como chegar na ponta, inicialmente com foco na educação básica, né, junto ao MEC, que já é um desafio enorme, considerando o tamanho do nosso, país, a quantidade de alunos que a gente tem, mas também pensando no papel que a gente pode ter junto com a sociedade civil e em chegar em outros públicos também vulnerabilizados em relação à informação, como, por exemplo, das pessoas idosas, né, que a gente vê um crescente número aí de pessoas idosas que caem em golpes e fraudes, por exemplo, por não terem, às vezes, tanto habilidade digital quanto essa educação para a mídia também, né. Então, é pensar nesses públicos vulnerabilizados também para além da educação formal.
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MARIANA: No ano passado, a Secretaria realizou uma consulta pública que contou com mais de 400 contribuições, e a partir daí construiu a chamada Estratégia Nacional de Educação Mediática. O documento estabelece objetivos estratégicos e eixos de atuação. Entre eles estão, por exemplo, a formação de professores e outros profissionais da educação, campanhas educativas e o uso consciente de telas por crianças e adolescentes, além da formação de parcerias para que as ações previstas sejam concretizadas. Segundo Mariana, jornalistas são parceiros fundamentais.
EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER🎶
MARIANA FILIZOLA: É fundamental a gente pensar em como o jornalismo é uma parte importante desse trabalho em sala de aula, né? E aí, a gente tem visto muito nas experiências internacionais como que pensar no processo de trabalhar a informação é importante para você conseguir entender toda a dinâmica que acontece nos meios digitais e, essencialmente, o que é a desinformação, como enfrentar isso, como distinguir, né, os fatos, os tipos de mídia, porque as experiências internacionais têm mostrado muito isso para a gente, que não dá para você chegar e querer falar logo de desinformação se você não explica desde o início o que é o processo de pesquisa, de fonte, como que você valida uma fonte, por que é importante uma diversidade de fontes, como funciona o trabalho de apuração do próprio jornalismo. Então, a gente enxerga que isso está no cerne do que a gente quer trabalhar enquanto conteúdo pedagógico quando a gente fala de educação midiática. Não dá para a gente falar dessa educação pra mídia sem entender o processo formativo da informação, né? E como que se chega numa informação íntegra.
EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER🎶
MARIANA FILIZOLA: E é uma provocação que a gente precisa fazer também enquanto sociedade, que é: qual é o papel também do jornalismo e dos jornalistas na promoção de uma educação midiática, né? Porque o Estado tem esse papel na formulação de políticas públicas, mas isso também precisa ser pautado pelos jornalistas, pelos veículos também e ter essa responsabilidade educativa dentro do próprio fazer jornalismo.
EFEITO SONORO MÁQUINA DE ESCREVER🎶
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MARIANA: Este é o Dizem as Fontes, o podcast que discute o papel do jornalista na educação midiática e como a educação midiática pode contribuir com o próprio jornalismo.
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MARIANA: Eu sou Mariana Tokarnia, repórter da Agência Brasil. O projeto Dizem as Fontes é fruto do meu mestrado profissional em Mídias Criativas na Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ, com orientação de Inês Maciel. Eu fiz a reportagem, entrevistas, roteiro, apresentação e montagem desse podcast.
Akemi Nitahara complementou a edição, sonorização e adaptação.
Tâmara Freire gravou a vinheta e os títulos dos episódios.
Implementação web de Lincoln Araújo e Beatriz Arcoverde, que também faz a coordenação de processos.
Utilizamos na trilha sonora a composição Informalidade, de Ricardo Vilas.
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MARIANA: Este episódio usou áudio de vídeos do Metrópoles, UOL, TV Fórum e TV Record, disponíveis no YouTube.
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MARIANA: Acompanhe também outras produções da Radioagência Nacional, como Ciência: mulheres negras dão o tom; e Grandes Invisíveis. Todos os capítulos estão disponíveis nos tocadores de áudio e no site da Radioagência Nacional, um serviço público de mídia da EBC. No próximo episódio, vamos falar sobre a entrevista.
SOBE SOM 🎶
Reportagem, entrevistas, roteiro, apresentação e montagem |
Mariana Tokarnia |
Edição, sonorização e adaptação | Akemi Nitahara |
Coordenação de processos |
Beatriz Arcoverde |
Identidade visual e design: |
Caroline Ramos |
Interpretação em Libras: | Equipe EBC |
Implementação na Web: |
Lincoln Araújo e Beatriz Arcoverde |
Trilha | Ricardo Vilas |
Locução da vinheta e títulos dos episódios | Tâmara Freire |
Áudios de vídeos do Youtube | Metrópoles, UOL, TV Fórum e TV Record |