Confira o primeiro capítulo (de um total de três) da série especial "Donas da bola: o futebol feminino no Brasil", uma produção da Agência Brasil, em parceria com a Radioagência Nacional. Acesse também a versão online da reportagem aqui.
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Vinte times de futebol feminino, de 14 estados, disputam o título de campeão brasileiro da modalidade. Pelos próximos dois meses, as equipes vão participar do campeonato que ocorre anualmente desde 2013, organizado pela Confederação Brasileira de Futebol, a CBF.
Entre os concorrentes da competição, condições bem diferentes de preparação. De um lado, jogadoras que não tem chuteiras e salários. De outro, equipes mais estruturadas que contam com equipamentos próprios, como campo de futebol e alojamentos.
No Maranhão, o Esporte Clube Viana tem dificuldades para conseguir local de treinamento e as jogadoras não têm chuteiras, como conta Alessandra Moreira, de 20 anos, atacante do time.
Sonora: “A gente tem que se virar, porque aqui ninguém ajuda. Eu penso em investir na carreira, mas se depender de São Luís, vai ser difícil. “Às vezes, tem campo, mas não tem chuteira. Tem que pedir emprestado. É difícil imaginar, mas não é impossível, não é?”
Para conseguir fazer um treino com as jogadoras, o clube precisa de pelo menos 270 reais, uma parte custear a passagem de transporte público das jogadoras e a outra para alugar um campo.
A capitã e zagueira do São José Esporte Clube, time do interior paulista, Daiane Rodrigues, ou Bagé, como foi batizada por causa da cidade em que nasceu no Rio Grande do Sul, conhece bem as dificuldades de mulheres quem decidem apostar no futebol.
Sonora: “Minha história é de muita luta. Meu tio emprestava a chuteira. Eu calçava 36 e ele, 38. Tinha que pôr dois meiões e duas palmilhas. Estou contando minha história, mas a grande maioria das meninas passam. Meus professores faziam vaquinha para eu poder viajar”.
No São José, Bagé recebe uma ajuda de custo, que é paga com apoio da prefeitura. Apesar de usar o escudo do time da cidade, o São José não oferece infraestrutura à equipe feminina, mantendo apenas a masculina.
A condição é diferente para as jogadoras do Kindermann, de Santa Catarina.
Sonora: "A gente é uma equipe de ponta. Temos uma estrutura muito boa: alojamento para 30 meninas, com cozinheira, fisioterapeuta"
O clube é exclusivo de mulheres. Elas recebem ajuda de custo entre R$ 500 e R$ 3,8 mil, contam com alojamentos com clínica de fisioterapia, além de receber bolsa integral de estudos. O Kindermann, que existe há 40 anos no município catarinense de Caçador, deixou de lado o futebol masculino e, desde 2004, aposta no futebol de mulheres.
O Kindermann é um dos favoritos do Brasileirão Feminino. O time é heptacampeão catarinense, atual vice-campeão brasileiro e campeão da Copa do Brasil.Da equipe, duas jogadoras foram convidadas para a Seleção: Andressinha e Gabi Zanotti integram o grupo permanente da CBF.
O Campeonato Brasileiro Feminino começou nesta semana e está sendo transmitido, pela primeira vez, em sinal aberto, pela TV Brasil.
Série Especial "Donas da bola: o futebol feminino no Brasil"
Capítulo 1: De jogadoras sem chuteiras a clubes com estrutura própria
Reportagem: Camila Maciel
Sonorização: Priscila Resende
Edição: Beatriz Pasqualino
Coordenação: Lílian Beraldo, Juliana Cézar Nunes e André Muniz
Esta é uma produção da Agência Brasil, em parceria com a Radioagência Nacional.