Confira o terceiro e último capítulo da série especial "Donas da bola: o futebol feminino no Brasil", uma produção da Agência Brasil, em parceria com a Radioagência Nacional. Acesse também a versão online da reportagem aqui.
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O time de futebol feminino da Marinha do Brasil já foi do Vasco, do Botafogo e, hoje, é do Flamengo. Foram três clubes em menos de cinco anos.
Mas não é só a equipe das Forças Armadas que recorre aos times vinculados às federações para poder disputar campeonatos locais ou nacionais. A equipe feminina da Ferroviária, time da cidade paulista de Araraquara, também irá disputar o Brasileiro Feminino carregando o escudo do clube. Mas, na prática, o apoio vem da prefeitura e de patrocinadores.
Embora não utilizem a mesma infraestrutura disponível para os homens e não recebam recursos, as mulheres herdam a apaixonada torcida dos clubes tradicionais.
Leonardo Mendes, treinador da equipe, avalia que é importante para o feminino levar o nome da Ferroviária.
Sonora: “Mesmo não tem contribuição financeira, acaba desenvolvendo bastante porque muita gente vai assistir os jogos devido a ligação que tem pela Ferroviária”.
A ajuda de custo das atletas é paga pela prefeitura e varia entre cento e cinquenta e mil e duzentos reais. A falta de recursos é a justificativa do clube para não manter um departamento de feminino.
Sonora: "A ferroviária não tinha estrutura necessária e quadro de funcionário para poder suportar mais uma modalidade, que seria o futebol feminino. O futebol feminino já existia na prefeitura e para disputar o Campeonato Paulista e o Brasileiro, ele precisava de algumas coisas que a Ferroviária pôde ajudar. Então, a Ferroviária contribuiu nesse sentido para um projeto que já existia na prefeitura"
Neste ano, o masculino da Ferroviária subiu para a elite do futebol paulista e, caso se saia bem, poderá disputar o Brasileiro.
O time da Marinha existe desde 2009 e, desde então, faz parcerias com clubes para disputar campeonatos de federação. De acordo com as Forças Armadas, a proposta é manter as atletas em bom ritmo para disputar jogos militares, como, por exemplo, o Mundial que ocorrerá na Coreia do Sul.
Sobre a mudança frequente de clubes, a Marinha informou que a parceria é firmada para um ano, que é o tempo suficiente para reavaliar o contrato.
O Flamengo assume os compromissos junto à federação e fornece os materiais com a marca do clube, como as camisas. A Marinha é responsável pelos custos com a atletas, como salários, fisioterapia, local de treinamento e alimentação.
A pesquisadora sobre o tema mulher e esporte, Silvana Goellner, avalia que a falta de empenho dos clubes no investimento do futebol feminino é uma questão central para o desenvolvimento da modalidade.
Sonora: “São raros os clubes que mantêm o departamento feminino por muito tempo e há rotatividade de clubes, conforme competição. Veja o exemplo do São Paulo, que acabou de anunciar que vai encerrar a equipe, apesar de estar disputando a final do Campeonato Paulista. Empresta a camisa, empresta o nome, mas não agrega dentro da infraestrutura do clube”
A professora lembrou que a Medida Provisória do Futebol, que prevê a responsabilidade fiscal e financeira dos clubes e detalha regras para parcelamento de dívidas, contemplou o futebol feminino como uma das contrapartidas. Ela avalia, no entanto, que a medida sofrerá resistências na implementação. A MP foi sancionada no início de agosto deste ano.
Série Especial: Donas da bola: o futebol feminino no Brasil
Capítulo três: O papel dos clubes e do Poder Público
Reportagem: Camila Maciel
Sonorização: Priscila Resende
Edição: Beatriz Pasqualino
Coordenação: Lílian Beraldo, Juliana Cézar Nunes e André Muniz
Esta é uma produção da Agência Brasil, em parceria com a Radioagência Nacional.