Confira o segundo capítulo (de um total de três) da série especial "Donas da bola: o futebol feminino no Brasil", uma produção da Agência Brasil, em parceria com a Radioagência Nacional. Acesse também a versão online da reportagem aqui.
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Os megaeventos esportivos no Brasil, a retomada do Campeonato Brasileiro Feminino de Futebol, os investimentos do governo federal e a formação da Seleção Feminina Permanente da CBF. Na opinião de treinadores e jogadoras entrevistados pela reportagem, esses fatores contribuíram para a maior visibilidade que vive, hoje, o futebol de mulheres.
A pesquisadora do tema mulher e esporte, Silvana Goellner, acrescenta mais um fator para essa agenda positiva no esporte: a persistência e a dedicação das atletas.
Sonora: "Há muito tempo a situação não é a desejada, mas elas não deixam de participar. Podemos atribuir a persistência dessas mulheres, que com um cenário tão adverso, continuam investindo no futebol quase como profissão. Apesar de entender o futebol de mulheres como ocupação e não como profissão, pois muitas delas precisam ter outras formas de substistência"
É o caso das atletas do Esporte Clube Viana, time do Maranhão, que vai disputar o Brasileiro Feminino. Sem patrocínio ou ajuda do Poder Público, as jogadoras tem apenas o auxílio-transporte para chegar ao treino, como conta Alessandra Moreira, atacante do time.
Sonora: "A gente sabe a dificuldade que a gente passa aqui em São Luís. Nada é facil, mas a gente vai para a guerra. A gente sempre disputou o Brasileiro desde que começou. Esse ano a gente está mais unido, pretende passar por cada fase e mais lá na frente ser campeãs"
Mayara Bordin, jogadora do Adeco – time do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa da prefeitura de São Paulo, avalia que o modelo construído no masculino não deve servir de exemplo.
Sonora: "Acho que nem tem necessidade de chegar no jeito que eles estão. Porque você vê aonde eles estão chegando, os clubes se atolando em dívidas..."
Além das questões salariais, Silvana reforça que as desigualdades de gênero se expressam de diversas formas no futebol.
Sonora: "Por exemplo, um discurso recorrente é que futebol feminino não atrai mídia porque os uniformes são muito largos, as mulheres não são bonitas, são muito masculinizadas. Acho que esse tipo de preconceito existente no futebol é um dos entraves para o desenvolvimento do futebol de mulheres"
A volante da Ferroviária, Nicoly Aprigio, de 18 anos, relembra o preconceito que enfrentou quando iniciou a jogar futebol.
Sonora: "No começo foi difícil, porque sempre existia brincadeirinha de que futebol era para homem e não para mulher. Aqui em Araraquara, eu acho bem diferente da realidade de outros times, pelo menos a diferença entre o masculino e o feminino. A diferença é muito grande, mas o apoio da cidade para o futebol feminino aqui, a gente consegue ver. Em jogos, a gente consegue ver a nossa torcida aqui, o apoio. Mas ainda assim existe o preconceito de que menina não deveria jogar futebol"
A pesquisadora Silvana avalia que o futebol feminino é um espaço democrático, que acolhe grupos de mulheres que não conseguem se inserir em outros esportes por não representarem uma feminilidade esperada pela sociedade.
Sonora: “Elas encontram no futebol um espaço de expressão, de empoderamento e de sociabilidade. A gente ainda percebe no futebol muitas mulheres pobres, negras, lésbicas. Ou seja, são mulheres que talvez não tenham espaço em outra modalidade esportiva"
O Campeonato Brasileiro Feminino começou nesta semana e está sendo transmitido, pela primeira vez, em sinal aberto, pela TV Brasil.
Série Especial "Donas da bola: o futebol feminino no Brasil"
Capítulo 2: A luta das jogadoras para dar visibilidade ao futebol feminino
Reportagem: Camila Maciel
Sonorização: Priscila Resende
Edição: Beatriz Pasqualino
Coordenação: Lílian Beraldo, Juliana Cézar Nunes e André Muniz
Esta é uma produção da Agência Brasil, em parceria com a Radioagência Nacional.
