Considerada a maior manifestação católica do país e uma das mais simbólicas do mundo, o Círio de Nazaré, na cidade de Belém, no Pará, acontece, atualmente, todo segundo domingo do mês de outubro.
Todos os anos, cerca de dois milhões de romeiros seguem a imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré em uma caminhada de fé pelas ruas da capital do estado.
A tradição teve início em Portugal, onde, por muito tempo, teria ficado escondida a imagem original da Virgem Santa, esculpida por São José. Essa imagem teria saído da cidade de Nazaré, em Israel, no ano de 361.
De acordo com Regina Alves, professora da Universidade Federal do Pará, doutora em Antropologia e pesquisadora do Círio de Nazaré, os jesuítas e portugueses trouxeram para o Brasil uma forte influência de devoção à Nossa Senhora. A professora explica a lenda que teria dado origem ao Círio em Belém do Pará.
Sonora: "Segundo a lenda, ou o mito fundador do Círio, em outubro de 1700, um homem, um paraense, chamado Plácido de Sousa, encontrou uma imagem da virgem às margens de um igarapé, perto de onde hoje se ergue a Basílica de Nazaré. O que é que narra a lenda? É que o Plácido levou aquela imagem para casa e ela desapareceu de noite. Foi encontrada no dia seguinte, no mesmo lugar onde ele tinha encontrado no dia anterior. Aí essas fugas se repetiram até que Plácido entendeu que ela queria ficar naquele lugar onde tinha sido encontrada; e ela, então, ganhou ali uma cabana como local de culto."
Assim nasceu a Basílica Santuário Nossa Senhora de Nazaré, que hoje guarda a imagem autêntica da Santa, encontrada por Plácido no igarapé Murutucú, no ano de 1700.
As mobilizações religiosas ganharam força e quase um século depois, após a autorização do Papa, aconteceu a primeira romaria oficial do Círio, em 8 de setembro de 1793, conforme conta a pesquisadora.
Sonora: "Esse primeiro Círio, o acompanhamento estimado dele é de 10 mil pessoas, praticamente toda a população da cidade naquela época. Essa primeira romaria já foi precedida por uma romaria que se chama até hoje de trasladação que é justamente quando você revive esse mito de origem."
Devotos de todos os cantos do Brasil e do mundo passaram a acompanhar as procissões do Círio de Nazaré em Belém e a atribuir diferentes milagres à Virgem Santa.
Com 21 anos de idade, o estudante de medicina Tiago Franco Davi diz que desde criança acompanha as festividades do Círio.
Sonora: "A família é muito religiosa então sempre na época do Círio começa a ter novena na casa dos vizinhos. O meu avô se mudou para um lugar que é bem na frente da praça Santuário, na frente da Basília de Nazaré, que é onde acontece toda a procissão. Então a gente acompanha de lá. Todo mundo junto, esperando acontecer a procissão para depois almoçar. Nesse almoço a gente serve mais as comidas típicas daqui do Pará: pato no tucupi, vatapá, tacacá, arroz paraense... espera a santinha chegar da procissão para depois almoçar."
Atualmente, a quadra nazarena, que abrange todas as manifestações de devoção do Círio, é composta por 12 romarias.
O momento mais esperado ocorre no domingo. A procissão tem início às 6h30 da manhã, após a tradicional missa na Catedral de Belém, no Largo da Sé. O percurso, que leva a imagem peregrina até a Praça Santuário de Nazaré, tem 3,6 quilômetros.
O manto da imagem santa, a berlinda, a corda, os carros dos milagres, os hinos e os promesseiros são símbolos e ícones que também fazem parte da tradição.
Em setembro de 2004, o Círio de Belém foi registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional como patrimônio cultural de natureza imaterial.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reconheceu o Círio de Nazaré como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, em dezembro de 2013.
Desde 1971, a Virgem de Nazaré é considerada pelos católicos Padroeira do Pará e Rainha da Amazônia.