Pacientes com câncer no Rio de Janeiro têm que lidar não só com as dores da doença, mas também com a situação de descaso revelada em levantamento feito pelo Conselho Regional de Medicina do Estado, o Cremerj.
Após fiscalizar 19 hospitais públicos de referência no tratamento do câncer, entre os meses de outubro e novembro do ano passado, o Conselho constatou que faltam remédios, equipamentos e até profissionais qualificados.
O descaso e as falhas levaram a Defensoria Pública da União, que acompanhou a vistorias nos hospitais, a solicitar abertura de inquérito para investigar a omissão dessas unidades e apurar o crime de exposição da vida ou saúde de terceiros em perigo. A defensoria vai ajuizar, ainda, uma ação civil pública contra a União e o estado do Rio caso nenhuma providência seja tomada.
O levantamento aponta falhas alarmantes, segundo o presidente do Cremerj, Nelson Nahon. Quase 60% dos pacientes já chegam às unidades com a doença em estágio avançado e 42% com exames feitos há mais de seis meses.
De acordo com o levantamento, as piores condições foram apresentadas nos hospitais federais de Bonsucesso e do Andaraí, na Zona Norte, e Cardoso Fontes, na Zona Oeste.
O defensor público, Daniel Macedo, relatou problemas em equipamentos para o procedimento de radioterapia, mamógrafo, além de uma demora que pode chegar a meses para a marcação da primeira consulta. Segundo Macedo, falta, inclusive, morfina em algumas unidades para os pacientes terminais.
Paciente do Hospital Federal de Bonsucesso, Simone Matos Brandão, descobriu em abril do ano passado um tipo agressivo de câncer de mama. Após meses de espera, ela retirou o tumor e agora aguarda para começar o tratamento de radioterapia.
Em nota, o Ministério da Saúde disse que os seis hospitais federais no Rio aumentaram entre 10% e 25% o atendimento a pacientes oncológicos, englobando consultas e sessões de quimioterapia de 2015 para 2016 e que o caso mais complexo é do Hospital de Bonsucesso, onde 40% dos pacientes já chegam em estágio avançado da doença.
Já a Secretaria de Estado de Saúde informou que as unidades estaduais vistoriadas contam com estrutura adequada para atender a demanda oncológica que recebem. A nota informa, ainda que a marcação para a consulta de planejamento de radioterapia é feita com cerca de dez dias e que o estoque de quimioterápicos está abastecido.