Na Trilha da História: Abolicionismo, do movimento das massas até a Lei Áurea
Olá! Eu sou a Isabela Azevedo e este é o Na Trilha da História. Nesta semana do dia 13 de maio, data da abolição da escravatura, vamos falar sobre a rotina do trabalho forçado nos campos e nos centros urbanos brasileiros, entre meados do século XVI e o final do século XIX.
Nosso entrevistado é o historiador João José Reis, doutor em história pela Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, e professor do Departamento de História da Universidade Federal da Bahia. Ele é um dos maiores espacialistas do Brasil no assunto. Nossa conversa começa falando sobre a idade em que os africanos e descendentes escravizados geralmente começavam a trabalhar.
Sonora: "Plenamente pronto para a mão de obra, para entrar no campo, por exemplo, por volta de 14, 15 anos. Mas, antes disso, ele já começava a trabalhar. Desde mais ou menos 8 anos, ele trabalhava na casa grande, em serviços domésticos, coisas miúdas que pudesse fazer, assim como também serviam de divertimento para os senhorzinhos, que era uma espécie de trabalho também."
Enquanto no interior poderiam existir grandes engenhos de açúcar ou imensos cafezais dependentes da mão de obra escrava, nas cidades a situação era diferente.
Sonora: “Nas cidades, as propriedades escravas eram pequenas. Tinha gente que tinha até mais de 20 nas cidades. Mas, de um modo geral, não passavam de cinco. E a grande maioria tinha um, dois. Entre esses proprietários urbanos, alguns eram ex-escravos. E havia também escravos que eram donos de escravos."
Mais de 4 milhões africanos chegaram ao Brasil entre as primeiras décadas do século 16 e meados do século 19.
Sonora: “Mas o fundamental é que o escravo era o melhor investimento que existia. Ninguém comprava uma casa em vez de comprar um escravo. Porque uma casa razoável era o preço de um escravo. Se você colocasse a casa para alugar, você não teria o mesmo retorno que teria se colocasse o escravo para trabalhar. Era o chamado escravo de ganho."
Além do investimento, comprar um negro escravizado significava subir na escala social.
Sonora: “Era uma sociedade escravista, em que a posse de outra pessoa não era um problema moral, de alta monta, porque todo mundo escravizava todos mundo. Quando as ideias abolicionistas começam a circular, só então é que a escravidão começa a entrar no código de repulsa social e moral. Antes disso, era um vale tudo, de certa maneira."
Muitos daqueles que foram escravizados se revoltaram, fugiram e formaram comunidades no meio da mata. Eram os quilombos. Zumbi foi o líder quilombola mais famoso e a comunidade dele resistiu por quase 100 anos.
Sonora: “Palmares é algo excepcional não só pela longevidade, não só porque era uma federação de quilombos, mas porque combateu e venceu as grandes potências da época. Quando houve a união das coroas portuguesa e espanhola, eles combatiam as duas principais potências daquela época. Quando os holandeses ocuparam Pernambuco, eles também derrotaram os holandeses. E, depois, derrotaram muitas vezes os portugueses sozinhos. É algo extraordinário, realmente épica a trajetória de Palmares."
Ao longo do século 19, algumas leis foram gradualmente reduzindo a escravidão, até que, em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que libertou os cerca de 700 mil homens e mulheres que ainda faziam trabalhos forçados.
Sonora: “Foi uma insatisfação generalizada. A escravidão já estava totalmente desmoralizada no país. Movimentos sociais espalhados por toda parte, fugas coletivas de escravos, inclusive nas regiões mais densamente escravistas, que era a zona oeste de São Paulo, a zona mais dinâmica da economia cafeeira na época. Então, foi uma combinação entre um movimento social, que tinha numa ponta os escravos, e, na outra ponta, os abolicionistas, muitos dos quais negros. Foi um movimento nacional e empolgante, realmente. A articulação dos abolicionistas tinha essa dimensão nacional. Eles viajando de um lado para outro, fazendo palestras, concertos pró-abolicionistas, no teatro. Foi um movimento empolgante, "
Esta é foi versão reduzida do Na Trilha da História sobre a escravidão no Brasil. Até semana que vem, pessoal!
Na Trilha da História: Apresenta temas da história do Brasil e do mundo de forma descontraída, privilegiando a participação de pesquisadores e testemunhas de importantes acontecimentos. Os episódios são marcados por curiosidades raramente ensinadas em sala de aula. Tem periodicidade semanal. Acesse aqui as edições anteriores.
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Print Paulo Pinto/Agência Brasil"
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