O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral revelou, em depoimento na Justiça Federal, que recebeu mais de R$ 100 milhões para a campanha eleitoral de 2010, mas que somente cerca de R$ 30 milhões foram legais. O ex-governador, mais uma vez, assumiu que errou ao fazer uso pessoal de caixa 2 e reafirmou que jamais pediu propina.
Sonora: “Estou dizendo pro senhor que foi pego sim dinheiro nessas empreiteiras. E não digo isso com nenhum orgulho e que eu fiz uso pessoal. Mas não tinha propina, eu naõ chegava assim: 'olha, vou construir o Hospital da Mulher de São João de Meriti e quero 5%'. Eu nunca pedi a nenhuma empresa multinacional ou nacional: 'olha, para entrar no Rio de Janeiro, tem que pagar um pedágio.'”
Esta é a segunda vez, em menos de uma semana, que Cabral é ouvido pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal no Rio, responsável pelos processos da Lava Jato no Estado. Antes de Cabral, outros três acusados na Operação Ratatouille também prestaram depoimento.
Durante depoimento, a defesa de Carlos Miranda, acusado de ser um dos operadores financeiros do esquema criminoso que seria chefiado por Cabral, informou ao juiz que o cliente fechou um acordo de colaboração.
O advogado de Sérgio Cabral, Rodrigo Roca, chegou a protestar contra o depoimento do acusado, alegando que o termo de delação premiada não tinha sido juntado aos autos, o que prejudicaria a defesa do ex-governador. No entanto, o juiz entendeu que o reú poderia prestar o depoimento.
Carlos Miranda confirmou a existência de uma organização criminosa liderada pelo ex-governador. Ele alegou que as negociações da propina eram feitas por Cabral e Wilson Carlos e que ele, Miranda, era o responsável pelo gerenciamento do recebimento de propinas, que seguiam uma taxa padrão de 5% em cima dos contratos.
Miranda confirmou ainda que o anel de 220 mil euros, dado pelo empresário Fernando Cavendish à mulher de Cabral, foi de fato propina, e que o empresário gostava de agradar o ex-governador. Miranda ainda confirmou que os mais de US$ 100 milhões repatriados dos irmãos doleiros Renato e Marcelo Chebar era da organização criminosa e o montante repartido entre o governador, que detinha mais de R$ 80 milhões e os demais.
Já Luiz Carlos Bezerra, também apontado como operador financeiro do esquema, confirmou que recebia dinheiro de propina e efetuava pagamentos conforme determinação de Cabral. Ele disse que recolheu propinas do empresário Marco Antônio de Luca, cujas empresas do ramo de alimentação detinham contratos com o Estado e são alvo da operação Ratatouile. Bezerra ainda afirmou que recebia por fora, sem contrato, um salário de R$ 30 mil reais do ex-governador.
Já o empresário Marco Antônio de Luca negou as acusações e afirmou que nunca teve benefício pelas contratações e que o Estado inclusive está devendo R$ 70 milhões às empresas que representa. O ex-governador Sérgio Cabral já foi condenado em primeira instância em três processos, com penas que somam 72 anos de prisão.