Cabral diz que pagou despesas da ex-mulher, do irmão e de ex-assessor com dinheiro de empreiteiro
O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral admitiu que pagou pensões e obras de reforma em três imóveis da ex-mulher, Susana Neves Cabral, e no sítio do ex-assessor Carlos Miranda. Também pagou mesadas ao irmão, Maurício Cabral, e outros familiares, com dinheiro de ajuda de campanhas da empresa FW Engenharia, do empresário Flávio Werneck. A confissão foi em depoimento, nesta segunda-feira (18), ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, responsável pelos processos da Lava Jato no Rio.
O esquema funcionava assim: a empresa de Werneck dava a ajuda, mas em vez de Cabral receber, eram feitos os repasses para empresas da ex-mulher, do irmão e do ex-assessor, por meio de contratos fictícios. No total, mais de R$ 5 milhões teriam sido movimentados dessa forma. Cabral classificou essas atitudes como um lado B da vida pública, que seria vinculado ao caixa 2, mas não à propina.
Sonora: “Ele iria me ajudar em campanhas eleitorais e eu abrir mão de campanhas eleitorais para dar esse tipo de ajuda, que eu reconheço que pedi pra fazer. Então, o caixa 2 do Flávio foi mais esse tipo de ajuda do que propriamente ajuda de campanha. Eu pedi isso a ele. E é verdade. Eu confundi, nesse aspecto, sim, um apoio que, eventualmente, poderia ser dado no caixa 2 a esse tipo de ajuda. Mas jamais propina.”
O depoimento foi parte da Operação Rio 40 Graus, desdobramento da Lava Jato no Rio. Na operação, deflagrada em agosto, pelo menos 10 pessoas foram presas, suspeitas de envolvimento com esquema de corrupção nas obras do BRT Transcarioca. Cabral se emocionou ao lembrar dos 13 meses de prisão e que vai passar o Natal longe dos filhos.
Sonora: “Tenho buscado muito em Deus forças pra esses momentos tão difíceis, que a gente às vezes acorda e não sabe como. Acho que.. aproveitar essa semana de Natal, mais um Natal fora de casa, longe dos meus filhos, deve ter algum sentido isso.”
Os outros citados por Cabral também foram interrogados e deram detalhes sobre o esquema nesta segunda-feira. Carlos Miranda é o ex-assessor de Cabral que virou delator. Em depoimento, ele disse que os repasses à ex-mulher de Cabral eram de cerca de cem mil reais mensais. E admitiu que recebeu cerca de R$ 200 mil e que o empresário pagou mais de um milhão de reais para reformar o sítio dele. Tudo a pedido de Cabral.
O empresário Flavio Werneck confirmou que os recursos eram, sim, propinas. Ele calcula que tenha pago de R$ 15 milhões a R$ 20 milhões em repasses ilegais. Suzana Neves Cabral negou saber os valores que recebeu fossem dinheiro de propina e que não tinha motivo para desconfiar do ex-marido. Também negou que recebia R$ 100 mil por mês.