A reintegração de posse do quarteirão entre as Ruas Barão de Piracicaba, Alameda Glete, Rua Helvétia e Avenida Rio Branco, na região da Cracolândia, foi concluída nessa segunda-feira (16).
Com aproximadamente 15 mil metros quadrados, o quarteirão vai ser usado para a construção da sede definitiva do hospital Pérola Byingnton, especializado em saúde da mulher.
Segundo o coordenador do projeto da parceria público-privada, Ricardo Tardelli, o hospital vai servir para revitalizar a região
Sonora: "A Ideia é trazer o hospital para uma area degradada e que teria necessidade de investimento do governo para que ela pudesse ser revitalizada. O hospital movimenta a região 24 horas."
Mas os moradores e comerciantes que vivem e trabalham no local reclamam que só foram avisados do despejo na última sexta feira (13) e que o prazo dado pelo governo do estado para que as famílias se retirassem voluntariamente acabou no domingo (15).
Sonora: " A pessoa chegar aqui, dá dois dias de prazo pra pessoa sair de dentro da sua casa, dois dias de prazo? quem é que vai arrumar um imóvel dentro de dois dias de prazo?"
Segunda-feira pela manhã, alguns moradores ainda retiravam objetos das casas. Muitas delas abrigavam mais do que 5 famílias.
A reportagem acompanhou a visita dos Oficiais de Justiça a um imóvel que os moradores disseram não ter sido cadastrado. Uma única sala na sobreloja de um bar, dividida em sete cômodos por madeirite.
Sonora: "Aqui por exemplo, aqui não tem minha roupa, aqui não tem meu ventilador, aqui não tem minha caixa de coisas, aqui não tem nada? a gente não é ninguém?
Segundo o governo de São Paulo, foram cadastradas 163 famílias no quarteirão que vai ser demolido. Apenas 10 famílias permaneceriam no local. Não foram preparados abrigos para receber quem não tem para onde ir, mas os pertences puderam ser guardados em um depósito indicado pela prefeitura.
A promessa é de que cada família vai receber auxílio aluguel de R$ 400 reais por mês até que achem um lugar definitivo para morar.
O governo também ofereceu transporte, lanches e caixas de papelão.
Sonora: "Pra que que eu quero uma caixa de papelão? Eu moro dentro do imóvel, vou colocar as coisas na caixa de papelão e vou colocar a caixa aonde? Na minha cabeça?"
Comerciantes não tiveram direito ao benefício, mesmo aqueles que moravam dentro do imóvel. Foi o caso de Seu Zé:
Sonora: "Quanto o senhor pagava de aluguel? Eu pagava R$ 1,5 mil e eles deixavam a gente dormir aqui. Mas eles chegou com tanta pressa e aí teve que sair todo mundo que tinha aqui."
Muitos questionaram porque não foram garantidas vagas nos apartamentos que estão sendo construídos na área da Cracolândia, como Andressa, que mora na região há 9 anos.
Sonora: nenhum daqueles prédios tão sendo dados pra nós moradores daqui, a gente vai ter que sair daqui, mas nós não vamos ter direito aqueles apartamentos ali.
O conjunto habitacional de 8 edifícios de 17 andares foi feito com a promessa de que seria destinado a famílias de baixa renda. Mas, segundo as pessoas que estão sendo despejadas, elas não puderam participar da seleção porque precisavam de uma renda de pelo menos R$ 3 mil.
A reportagem ainda aguarda retorno da Parceria Público Privada dos apartamentos para saber quais foram os critérios para escolher quem pode ser beneficiado pelo programa de moradia.
A ação de despejo foi informada um dia antes de ser escolhido o Conselho Gestor da Região.
Como a área é uma ZEIS, Zona de Interesse Social, a lei determina que qualquer intervenção deve ser feita com a aprovação do conselho formado por representantes do poder público e membros eleitos da comunidade.