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Grupos masculinistas propagam misoginia e ameaçam mulheres na internet

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Nelson Lin - Repórter da Rádio Nacional
01/03/2023 - 14:54
São Paulo

A Polícia Civil abriu inquérito, nesta terça-feira (1º), para investigar a ameaça de morte feita pelo autointitulado coach de relacionamentos Thiago Schutz contra a atriz e humorista Livia La Gatto.  

Schutz faz parte do movimento RedPill, que inferioriza as mulheres falando que elas servem apenas para relações sexuais casuais, e que o atual sistema supostamente favoreceria as mulheres.  

Livia La Gatto, por sua vez, fez dois vídeos nas suas redes sociais usando o humor para evidenciar os absurdos que são proferidos por esses grupos.

Nas redes sociais, Thiago Schutz alegou que suas ameaças - de que “se a atriz não retirasse conteúdo, ela levaria bala” - eram para ser consideradas de forma figurativa e não literal. Ele disse que não possui e nem tem porte de arma.

Esse caso não é único: a professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Lola Aronovich, uma das precursoras do ativismo feminista na internet, relatou que teria recebido ameaça de morte nesta semana e que o remetente expôs, inclusive, seus dados pessoais.

Convivendo há mais de 12 anos com essas ameaças, ela estuda o funcionamento desses grupos e afirma que o movimento RedPill é outra vertente desses grupos masculinistas e que nesse caso, usam o suposto discurso de autoajuda nos relacionamentos para propagar machismo e misoginia.

"Uma das sinas deles é que eles são heterossexuais. Porque seria mais fácil, se eles fossem homossexuais, eles se relacionarem só com homens (...) uma das coisas que eles dizem é que, 'se não tivesse vagina, eu nem falava com ela'. Ou seja, ele só vê a mulher como um objeto sexual. E tem gente que defende que não tem que ter nenhum relacionamento com mulher mesmo, ou só com prostitutas".

Para a psicanalista Sabrina Arini, o surgimento desses grupos é uma reação de alguns homens contra a emancipação feminina e a luta por igualdade de direitos, que tirou dos homens o papel de destaque na sociedade. No entanto, Arini ressalta que é necessário trabalhar e dialogar com essa frustração masculina para que ela não se transforme em violência - seja contra eles mesmos, ou contra toda a sociedade.

"O que a gente escuta muito nos grupos é isso (...) e eu acho que ter uma resposta para isso, não se sentir este cara, não consigo ser este cara, que é ou eu vou deprimir ou eu vou ser mais violento. Eles saem para estes dois lados. Eles ficam com raiva e mostram a violência ou contra as mulheres ou contra eles mesmos. Brigam no trânsito, batem, se batem, gera violência... ou, uma coisa muito melancólica, muito depressiva: eu não sirvo, eu não presto, eu não me encaixo, eu não sou homem".

Sabrina Arini ainda vê outro perigo no fortalecimento dos grupos misóginos, que é a de negar a realidade a partir do discurso - uma tática amplamente usada pela extrema-direita em todo o mundo.

"Tem o RedPill, que é a pílula vermelha do filme Matrix, que é como se aquilo que você está vendo não é a realidade. A realidade é aquilo que eu vou te contar. Eu vou te contar e eu digo o que eu quiser. É uma estratégia da extrema-direita do mundo, que é negociar a realidade. A gente olha no WhatsApp e lê que a economia está super bem, e eu vou no mercado e vejo que o leite está mais caro. É mais importante o que eu li do que eu estou vivendo no concreto. A partir do momento que a gente não compartilha mais uma realidade comum, socialmente, isso é gravíssimo. Eu saio do real e o conceito de sair do real é a loucura".

Sabrina é uma das coordenadoras da roda de conversa masculina Fala Homem, que é um espaço para que os homens possam falar sobre seus sentimentos e emoções, com encontros semanais todas as terças. Há também outros grupos na internet de discussão dessa chamada masculinidade tóxica como o projeto Memoh. Os dois projetos podem ser encontrados nas redes sociais @fala.homem e @projeto.memoh.

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