53% dos moradores do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, convivem ou conviveram nos últimos três anos com insegurança alimentar grave, ou seja, ficaram pelo menos um dia sem ter o que comer, e 83% das casas com crianças até 6 anos vivenciaram algum dos níveis de insegurança alimentar.
É o que revela estudo do Ibase, Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, realizado este ano no complexo de favelas localizado na Zona Norte da capital fluminense.
A socióloga Joice Lima, ex-moradora do Complexo do Alemão e pesquisadora do Ibase, afirma que a pandemia da covid-19 agravou a já difícil condição de sobrevivência de muitas famílias que residem em comunidades, depois que o Brasil voltou para o mapa da fome.
40% das famílias precisaram reduzir a quantidade de consumo de alimentos diário ou a qualidade dos produtos consumidos, como por exemplo, comprando embutidos no lugar da carne fresca. Em mais de 68% das casas com crianças houve compra de produtos de baixo custo para que não faltassem alimentos para os pequenos.11% de famílias relataram que suas crianças ficaram o dia todo sem comer porque não havia dinheiro para comprar comida.
Joice Lima observa que quando se chega a uma situação de insegurança alimentar grave para crianças é porque os adultos já estão sem alimentação há mais tempo e não encontraram mais nenhuma alternativa para conseguir alimentos.
A pesquisadora avalia que provavelmente esse cenário se repete em outras comunidades e deverá ser apontado em novos estudos que serão divulgados, por serem territórios semelhantes, nos quais há uma dificuldade de acesso aos direitos básicos, principalmente, o acesso à alimentação.