Nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou decreto para reverter o processo de privatização da Ceitec, estatal que fabrica chips eletrônicos e semicondutores.
Nesta entrevista, Augusto Cesar Gadelha Vieira, gestor da empresa, explica como será feito o plano de recuperação das atividades, a contratação de funcionários e o reingresso da Ceitec no mercado.
Daniella - A reversão da dissolução da Ceitec é fruto das conclusões do Grupo Interministerial que trabalhou com o tema desde a transição do governo, correto? O que acontece a partir de agora tendo em vista que a empresa estava em processo de liquidação?
Augusto Cesar - No último dia 6 de novembro, segunda-feira, o presidente Lula assinou um decreto, que foi publicado no mesmo dia no Diário Oficial da União (DOU), no qual autoriza a assembleia geral da empresa Ceitec, uma empresa estatal fabricante de chips e semicondutores, a reverter o processo de liquidação, iniciado pelo governo anterior. A retomada operacional da Ceitec ocorrerá na sexta-feira, dia 10 de novembro, quando a assembleia geral da empresa se reunirá e indicará os novos dirigentes e os membros dos conselhos de Administração e Fiscal. A partir daí a empresa terá, necessariamente, que recompor os seus quadros técnicos e administrativos, dizimados pelo processo de liquidação. E elaborará um plano de recuperação das atividades para atender às demandas dos setores público e privado.
Daniella - Sobre o quadro funcional, existe a previsão de recontratação de trabalhadores?
Augusto Cesar - Antes da liquidação, a empresa tinha autorização da Secretaria de Estatais, hoje vinculada ao Ministério de Gestão e Inovações, para o quadro de 180 funcionários de carreira, concursados. Em decorrência da liquidação, foram demitidos 118 desses funcionários, restando apenas 62. Portanto, é necessário haver uma recomposição desse quadro técnico e administrativo para que possamos fazer a retomada operacional da Ceitec. As maneiras que essa recomposição será efetuada, se por contratos temporários, se por concurso público, precisam ser discutidas, analisadas e aprovadas pela nova diretoria da empresa, pelo seu Conselho de Administração, pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações, e pela Secretaria de Estatais.
Daniella - Como estão hoje as instalações, máquinas e equipamentos da empresa pública?
Augusto Cesar - A empresa ficou em estado de liquidação por quase três anos. Nessa condição jurídica de liquidação, todos os seus projetos de pesquisa e desenvolvimento em novos produtos foram interrompidos, bem como foi paralisada qualquer produção na planta fabril. Assim foi mantido apenas parte dos funcionários da área de Facilidades Industriais e Manutenção dos Equipamentos, além de alguns da área administrativa, necessários para o processo de liquidação. E também para manter a infraestrutura fabril minimamente qualificada para que fossem vendidos seus equipamentos, já que a área de fabricação de semicondutores nós não podemos paralisar de forma não planejada a sua infraestrutura fabril. As salas limpas foram mantidas na condição de uso, porque assim é necessário. E isso foi benéfico neste momento de reversão, porque nós podemos retornar as atividades e elas salas limpas foram mantidas na condição de uso para a fabricação de chips, com os equipamentos de microfabricação, que foram mantidos no estado de hibernação e hoje são aptos à produção desses chips e semicondutores.
Daniella - Qual expectativa de reingresso da empresa pública no mercado?
Augusto Cesar - Será necessário retomar, por causa dessa longa paralisação, alguns testes de produção para avaliar o estado final desses equipamentos. Nós estamos otimistas de que não haverá necessidade de grandes investimentos para que os mesmos possam ser utilizados. A retomada de alguns produtos, que já vinham sendo produzidos, deverá ocorrer em um período de seis a nove meses. Necessário para a compra de insumos, porque muitos deles são importados. Os novos produtos, dentro do plano de novas rotas tecnológicas deverão ser produzidos em um prazo maior, em torno de dois anos. Já que serão objeto de novos investimentos e atualização tecnológica da fábrica, assim como treinamento adequado em novos processos em novas rotas tecnológicas. Portanto, estamos confiantes que a retomada da empresa Ceitec será bem-sucedida, nos trará uma empresa que contribuirá, e muito, para que o país possa adquirir a devida capacitação para se inserir no mercado internacional de semicondutores, hoje que é algo fundamental para todo o processo de industrialização e desenvolvimento de um país.