Em relação aos indígenas, o Brasil é um país endividado. Juros que só aumentam ao longo de mais de cinco séculos de exploração. Dívida de terra, de dinheiro, de liberdade.
Quando se trata de cultura o endividamento salta aos olhos e aos ouvidos. Quando um indígena fala na sua língua materna e quase ninguém entende, o problema é dele. Mas o contrário não é verdadeiro. Aprender português é uma necessidade que se consolidou ao longo do tempo.
O canto que você ouviu é na voz de crianças munduruku. Elas precisam ser bilíngues pra poder ter acesso à educação. Difícil pra elas e também pra quem já trilhou todo um caminho. Foi assim para o indígena Eliano, antropólogo recém-formado.
Embora alguns pesquisadores discordem, o censo do IBGE de 2010 aponta que o Brasil tem apenas 20% das 1.175 línguas indígenas estimadas originalmente. Seriam 274 faladas por 305 etnias. Professora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Flávia Lisboa analisa esse prejuízo histórico. Aqui no país, oferecer ensino regular para crianças indígenas se tornou uma das principais políticas públicas de reparação aos povos originários. Lúcia Alfaia, da Secretaria de Educação do Pará, explica em detalhes a relevância desse trabalho e como ele é colocado em prática.
De acordo com o GEDAI, Grupo de Estudo Mediações, Discursos e Sociedades Amazônicas, no território paraense estima-se a existência de 34 línguas indígenas e 120 em toda a Amazônia. Um mapa interativo com essa riqueza linguística foi criado. Flávia Lisboa faz parte do GEDAI e comenta o processo de troca desigual e impositivo que vem desde a colonização.
O ambientalista Ailton Krenak, uma das lideranças indígenas mais relevantes no cenário nacional e internacional, evidencia essa realidade. Filósofo, poeta e escritor, ele foi empossado em 2024 como o primeiro indígena imortal da Academia Brasileira de Letras.
As línguas indígenas são patrimônio nacional e, como já foi dito, devem ser respeitadas, para que não morram e sim permaneçam como parte viva da nossa cultura.