Há exatos 44 anos, no dia 25 de abril de 1974, Portugal comemorava o fim da ditadura do Estado Novo. A Revolução dos Cravos, como ficou conhecida a revolta, apesar de abalar as estruturas políticas e econômicas do país, transcorreu sem manifestações de violência. A população saiu às ruas e distribuiu cravos vermelhos aos soldados rebeldes, que colocaram as flores nos canos dos fuzis. A data se tornou então o Dia da Liberdade.
Como parte das tradicionais comemorações da Revolução dos Cravos, o dia começou em Lisboa com uma sessão solene na Assembleia da República, que estará aberta durante a tarde, para visitação do público.
No início da tarde, será inaugurado o Jardim Mário Soares, em homenagem àquele que é considerado um dos grandes nomes da democracia portuguesa. Mário Soares lutou contra a ditadura na década de 70, foi preso e exilou-se na França. Voltou a Portugal, onde construiu uma respeitável trajetória política, tendo sido ministro dos negócios estrangeiros, presidente da República e primeiro-ministro. Ele faleceu em janeiro do ano passado.
Haverá também o famoso desfile na Avenida da Liberdade, previsto para começar às três da tarde, horário local, partindo da emblemática estátua de Marquês de Pombal. São esperadas milhares de pessoas para o desfile, que é sempre enfeitado por cravos vermelhos, o símbolo da Revolução.
No Museu do Aljube, dedicado à memória do combate à ditadura e da resistência haverá, durante todo o dia, recolha de testemunhos e objetos de ex-prisioneiros e resistentes da ditadura que estejam dispostos a partilhar as suas memórias. O Museu foi onde funcionou a prisão na época do regime.
Outras cidades, como Porto e Vila Nova de Gaia também terão programações especiais, com museus abertos ao público, desfiles e espetáculos musicais e de fogos de artifícios.
A Revolução dos Cravos foi o desfecho de uma situação que começou muitos anos antes, com movimentos de independência das colônias portuguesas. Depois da Segunda Guerra Mundial, a colonização passou a ser vista como um atentado à liberdade dos povos e esforços internacionais passaram a ser feitos no sentido de forçar Portugal a conceder independência aos seus "territórios ultramarinos".
Com a entrada de Portugal na ONU, em 1955, a situação complicou-se ainda mais, dando início a uma polêmica diplomática que seguiria até o ano de 1974.
A partir de 1961, com inúmeras revoltas e atos de terrorismo, guerrilhas separatistas começaram nos territórios coloniais, como Angola, Guiné e Moçambique.
Mesmo com um esforço militar enorme, as baixas portuguesas durante as Guerras Coloniais foram muitas, considerando-se a população do país, que tinha menos de 9 milhões de habitantes na época. Foram cerca de dez mil soldados mortos e vinte mil feridos.
Com tantas baixas e uma população insatisfeita, os efeitos das Guerras Coloniais tiveram relação direta com o fim da ditadura em Portugal. As pressões não eram mais apenas internacionais. Internamente, Portugal enfrentava uma população hostil diante da guerra e do militarismo.
Mas foi do Exército que partiu o movimento que acabaria definitivamente com a ditadura. À meia-noite do dia 25 de abril de 1974, os soldados saíram dos quartéis, tomaram as ruas de Lisboa e exigiram a deposição de Marcello Caetano, então presidente do Conselho do Estado Novo.
Durante aquela noite, a população distribuiu cravos em forma de agradecimento aos soldados rebeldes. A imagem dos militares com cravos nas armas ficou na memória dos portugueses como o símbolo de uma revolução sem violência.
Os rebeldes instituíram então uma Junta de Salvação, responsável por fazer a transição do regime e dar fim às instituições ditatoriais.
Nos dias após a revolta, líderes dos partidos de oposição como o socialista Mário Soares e o comunista Álvaro Cunhal voltaram do exílio.