Quando se fala em clima, a gente logo lembra de temperatura, umidade do ar e também da incidência de chuva, sol, neve e ventos.
Algumas pessoas falam que isso aí é o tempo daquele lugar. Mas, então, qual é a diferença entre clima e tempo?
Quem explica é o professor do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília, UnB, Gustavo Macedo de Mello Baptista.
"O tempo mede as variações momentâneas do estado da atmosfera, ou seja, se tá chovendo, qual a temperatura, como é que está a umidade naquele momento. Já o clima pressupõe uma média histórica dos diversos elementos climáticos, para que você possa dizer como é o clima daquela região".
A Organização Mundial de meteorologia considera que são necessários, no mínimo, 30 anos para identificar um padrão de comportamento do tempo numa certa região.
O Brasil tem seis climas diferentes. O equatorial, do Norte do país, tem temperaturas médias acima de 25ºC e alta umidade relativa do ar o ano inteiro. Por lá não existe uma estação seca.
Já o clima semiárido do Nordeste tem temperaturas elevadas e baixa umidade do ar o ano todo, com estação seca por vários meses.
Para especialistas, esses padrões têm mudado no Brasil e no mundo, ou seja, uma mudança climática está em andamento. O professor Gustavo Baptista da UnB opina que isso está acontecendo por causa da ação humana.
"Mudanças climáticas sempre existiram, mas a gente vem experimentando mudanças mais significativas, principalmente, por causa da população mundial. Uma utilização muito intensa de recursos naturais, uma relação um pouco sustentável entre população e ambiente. E isso tudo tem gerado impactos locais, regionais em escalas até mais globais do que a gente vinha experimentando antes".
Esses impactos já estão no nosso dia a dia: secas mais intensas, grandes tempestades, frio mais rigoroso, mudanças nas estações do ano, altas temperaturas e nevascas mais intensas.
Segundo a Organização das Nações Unidas, esses eventos extremos são impulsionados pelo uso intenso dos recursos naturais que provocam o aquecimento global.
Em março deste ano, o último relatório do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, mostrou isso.
A temperatura média mundial já subiu 1,1°C acima dos níveis antes da industrialização dos países.
Para a ONU, isso é consequência do uso intenso de combustíveis fósseis, como petróleo, gás e carvão em usinas termelétricas e veículos, e também da atividade industrial e da agropecuária convencional.
Mas, há quem se pergunte: essa mudança climática não seria da própria natureza? Um ciclo normal do planeta? O professor Gustavo Baptista responde.
"A natureza é responsável por mudanças climáticas sim. Nós já tivemos momentos mais quentes do que o atual. Os Vikings, por exemplo, navegavam na região do ártico, que hoje é uma região muito fria. A Groenlândia, em inglês, o nome dela é Greenland. Ela já foi uma terra verde, hoje ela coberta por gelo. E esses ciclos obedecem a questões como fonte de energia. O sol, as erupções vulcânicas, então, interferem sim. São motores bastante poderosos nessa questão".
Segundo o professor, o que a gente vê hoje tem a digital da humanidade.
"A mudança climática tem uma interferência muito maior hoje das atividades humanas do que efetivamente essas grandes alterações, principalmente, nas escalas mais locais e mais regionais".
As consequências dessas mudanças climáticas, você acompanha na próxima reportagem da série Mudanças Climáticas: uma ameaça à segurança alimentar.
Ficha técnica:
Produção: Salete Sobreira
Edição: Sheila Noleto
Sonoplastia: José Maria Pardal