A dor da perda e do trauma após as enchentes ainda está estampada no rosto dos sobreviventes da tragédia que assola o Rio Grande do Sul desde o início da última semana. Mas a esperança e a fé no recomeço também são marcas latentes no olhar da população de Roca Sales e Muçum, dois dos municípios mais atingidos pela passagem do ciclone extratropical pelo estado.
Os relatos são difíceis de ouvir e de imaginar: em uma tarde de muita chuva, o nível do Rio Taquari subiu rapidamente. A força da água, devastadora, passou arrastando tudo: carros, casas, animais e pessoas. Agora, os esforços estão concentrados em localizar as vítimas e reconstruir o que sobrou.
Ao longo dos últimos dias, drones têm sido usados para ajudar nas buscas, por pessoas e pelo que ainda pode ser reconstruído. Em Roca Sales, um dos municípios mais atingidos pelo desastre natural, casas inteiras foram ao chão. Voluntários e a população, unidos, limpam ruas e recolhem escombros e entulhos com a ajuda de maquinários.
Em Muçum, cidade vizinha a Roca Sales, a situação não é diferente. O cenário lembra uma zona de guerra. Locais que eram ruas pavimentadas e casas agora se resumem a um amontoado de escombros, ferros retorcidos e vegetações tombadas. Moradores e voluntários juntos tentam salvar o que restou dos pertences, que são cuidadosamente lavados para retirar o barro. Neuza Zenha e Edmar Gonzade ficaram ilhados em um pedaço da laje durante a inundação e assistiram à enchente devastar sua propriedade, a lavoura, a criação de animais e a casa em que moravam. Infelizmente, o primo de Edmar não conseguiu chegar ao local a tempo de se salvar.
No início da semana, o governo federal reconheceu a situação de calamidade pública do Rio Grande do Sul. Mais de 11.600 pessoas estão desabrigadas e quase 3.800 perderam suas casas. O prejuízo mensurado pela Confederação Nacional de Municípios chega a um bilhão e trezentos milhões de reais.