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Inovação

Universo: Conheça a história de mulheres que amam as estrelas

Há séculos, as mulheres protagonizam marcos históricos na astronomia
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Adrielen Alves
05/03/2021 - 12:08
Brasília
A figura mostra o resultado do choque de duas estrelas de nêutrons. Ilustração NASA Goddard Space Flight Center/CI Lab
© NASA Goddard Space Flight Center/CI Lab

Elas amam as estrelas. E estão ligadas ao universo. Seja pela astronomia ou por áreas ligadas à ciência que estuda os astros – como a física, a matemática, a engenharia ou até mesmo a filosofia.

Desde que o mundo é mundo e que olhar para o céu também passou a ser um questionamento da dinâmica dos sistemas, as mulheres estão presentes nos debates e nos achados astronômicos.

Passaram, ao longo da história, por percalços que as colocaram em situação de desigualdade, como preconceitos e normas que as deixavam de fora da jogada. Caminham ainda!

Mas, desbravadoras que são, enfrentaram, quebraram regras, construíram novos paradigmas para ter o direito de estudar, pesquisar, descobrir e grifar seus nomes nas estrelas.

Eu falo aqui de Marias, Maries ou Marys.

Eu falo aqui de Hipátia ou Hipátia de Alexandria. Nascida no Egito, no século IV, que à frente do seu tempo se lançou aos cálculos matemáticos e pesquisas astronômicas, o que custou a sua própria vida.

Hipátia teve como inspiração o pai que era diretor do Museu de Alexandria e, segundo conta a história, foi por incentivo dele que decidiu estudar e mais à frente lecionar. Deu aula de filosofia à matemática até ocupar a direção da Academia de Alexandria, um cargo não conferido às mulheres do seu tempo.

Na astronomia, há relatos de que estudou a órbita dos planetas e até teria participado do projeto para a construção de um astrolábio, uma espécie de calculadora astronômica.

Por defender o raciocínio lógico, foi acusada de blasfêmia e segundo historiadores, morta por extremistas.

As pesquisas atribuídas à Hipátia de Alexandria, e os principais registros da vida e obra dela se perderam com o grande incêndio da Biblioteca de Alexandria.

Hipátia é considerada a primeira matemática da humanidade e foi pelo ato de ensinar, lecionar, que teve seu nome ventilado ao longo dos séculos.

A séculos e milhares de quilômetros do Egito de Hipátia, eu falo também da brasileira Patrícia Figueiró, que fez da multiplicação do saber projeto de vida, como pesquisadora em ciência e tecnologia, do Museu de Astronomia e Ciências Afins, ligado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações.

''Sou mestre e doutora em Física, as minhas pesquisas sempre foram na área da astrofísica. Num primeiro momento eu trabalhava com galáxias ativas, que são galáxias que hospedam um buraco negro supermassivo no seu centro que está em atividade. Ou seja, ele está acretando, engolindo matéria e transformando em energia. Através das fotografias destas galáxias a gente consegue observar esta ejeção de energia através de luz. Já no meu doutorado trabalhei com os aglomerados de galáxias e eu estudava estes objetos através das lentes gravitacionais e a partir destes estudos eu consegui determinar alguns parâmetros do universo. Atualmente, no MAST, eu trabalho com divulgação científica. Mais especificamente com divulgação e popularização da astronomia. Então, no museu eu coordeno projetos que passam desde a formação inicial e continuada de professores na área da astronomia a também projetos de incentivo de jovens para as carreiras científicas que é o caso do projeto Meninas no Museu. Eu utilizo esta ciência para inspirar, motivar, esclarecer esta temática para a sociedade.''

Ela conta que um dos maiores desafios é aliar o sonho à solidão da caminhada.

''Eu acredito que a carreira da pesquisa, a trajetória formativa é, sobretudo, muito solitária. Então, fazer um mestrado ou doutorado é se deparar com um problema que ninguém nunca antes estudou. Então, muitas vezes temos anseios de resolver tudo rapidamente, mas é preciso ter muita paciência, determinação e vontade mesmo de trabalhar estes temas. Isto foi um desafio. No meu caso, em particular, eu tinha muito desejo de fazer o doutorado fora do Brasil e foi ainda mais solitário dado que eu morava em outro país, sozinha, minha família não estava lá. Então, essas coisas amplificaram. Então, a gente tem que se encontrar com a nossa sombra. O maior obstáculo somos nós mesmos. É a nossa garra e determinação que fazem a diferença neste processo que é tão solitário”.

E como outras cientistas ao longo do tempo, se espelha na vivência e humanidade de outras cientistas do seu tempo.

''Eu sou gaúcha, fiz graduação e mestrado na UFRGS, no Instituto de Física e no departamento de astronomia temos a presença de mulheres muito fortes e muito capazes no que diz respeito à ciência, entre elas estão a Miriani Pastoriza e Thaisa Storchi. A Thaisa Storchi foi minha orientadora, mulher incrível, não só pela profissional que é mas pela história de vida que ela tem, no sentido amplo da palavra mulher: três filhos, levando essa vida dupla de mãe e pesquisadora. E também a Miriani Pastoriza que foi a orientadora da Thaisa. Ela é argentina e saiu do país no período ditatorial, chegou ao Brasil em condições adversas e foi um dos grandes nomes da consolidação desta carreira da astronomia no Brasil, país que ela acabou adotando. Então, são mulheres muito inspiradoras pelas profissionais que são e pelo papel social que elas têm na nossa sociedade.''

Para as mulheres que amam as estrelas e para todas as outras, ela deixa um recado.

''A astronomia é uma área para as mulheres por que somos capazes inteligentes, dedicadas e aguerridas. Uma área ou profissão que não é para mulheres, ela não é para ninguém, não é para pessoa alguma. ''

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