Mulheres negras podem e devem decidir os rumos da política e da sociedade. A afirmação parece óbvia, mas diante do racismo e da invisibilidade, esse é o alerta de um relatório que procurou identificar, conhecer e colocar em evidência quem são e quais são as soluções apontadas pelas ativistas negras, que, mesmo durante a pandemia, continuaram provocando debates e mudanças em suas localidades.
O estudo, inédito, produzido em parceria pelo Instituto Marielle Franco e o Movimento Mulheres Negras Decidem, ouviu 245 ativistas de todas as regiões do país sobre como estão atuando e as perspectivas para sua inserção nos debates políticos.
A diretora-executiva do Instituto Marielle Franco, Anielle Franco, destaca que a pesquisa reforçou que as mulheres negras assumiram a dianteira em ações de enfrentamento à Covid-19.
O estudo mostrou que mais de 90% das entrevistadas tem nível superior e, apesar disso, estão na baixa renda. 57% delas têm orçamento familiar de até três salários mínimos.
60% delas fazem parte de coletivos ou organizações de mulheres negras. Foram identificados 130 coletivos diferentes. 69% das ativistas organizadas atuam em ações diretas de enfrentamento à pandemia, tanto nas capitais quanto no interior do país.
13% já foram candidatas em eleições municipais ou estaduais.
Apesar de estarem na linha de frente, inclusive em partidos, as entrevistadas mostraram que se deparam com estereótipos sobre a sua militância, o engessamento das instituições e a violência política, o que, segundo Anielle Franco, acaba pesando na decisão de concorrer a um cargo eletivo, por exemplo.
O relatório traz recomendações aos próprios movimentos, às organizações filantrópicas e aos tomadores de decisão do sistema político para o fortalecimento da representatividade das ativistas negras.
Entre os apontamentos está a destinação de recursos para a manutenção e sustentabilidade dos trabalhos desenvolvido por elas e, para os partidos, Congresso e Judiciário, a necessidade de condicionar parte do financiamento público de campanhas a metas objetivas de promoção a participação de mulheres negras.
O estudo mostra ainda que as ativistas têm soluções para o pós-pandemia e suas preocupações são universais, como a necessidade de fortalecimento da saúde e educação públicas, renda básica, garantia de direitos dos povos tradicionais, fortalecimento da legislação trabalhista, entre outros.
O relatório convida, por fim, a sociedade a seguir os passos das mulheres negras. O estudo completo pode ser baixado no site paraondevamos.org.