As crianças expostas à poeira da mineração nas áreas de Brumadinho, em Minas Gerais, apresentaram três vezes mais chance de desenvolver alergia respiratória do que as que vivem em outras localidades. É o que diz o estudo produzido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Fiocruz, a partir do projeto Bruminha.
A pesquisa analisa a saúde dos pequenos até seis anos de idade nas comunidades impactadas pelo rompimento de uma barragem da mineradora Vale.
Nas áreas atingidas pela tragédia, houve 75% mais relatos de alergia respiratória, em comparação com uma localidade não afetada. Renan Duarte, pesquisador do Projeto Bruminha, pela UFRJ, explica que as crianças abaixo dos cinco anos são mais sensíveis aos efeitos tóxicos das substâncias químicas do que os adultos.
“Elas apresentam maior probabilidade de exposições a produtos químicos que podem estar presentes nesses meios ambientais. Então, durante a infância, a exposição a particulados ou aerodispensóides, podem oferecer danos pulmonar, considerando que o sistema respiratório ainda está em desenvolvimento e maturação. Além disso, podemos destacar a imaturidade das vias enzimáticas, responsáveis pela metabolização dos agentes químicos, que limita a capacidade do organismo, de desintoxicar e excretar substâncias químicas às quais essas crianças foram expostas”, exemplifica.
O estudo foi realizado em três comunidades: Córrego do Feijão, Parque da Cachoeira e Tejuco. Para comparação, também foram coletados dados na comunidade de Aranha, outra área impactada na tragédia. No total, 217 crianças até seis anos foram avaliadas, cerca de um ano e meio após a ruptura da barragem.
A análise foi realizada a partir de questionários respondidos por pais e responsáveis pelas crianças. E o pesquisador da UFRJ espera que a partir dos resultados existam ações em saúde pública específicas para essas comunidades.
“Isso é fundamental para ações mais efetivas do âmbito da saúde pública, principalmente considerando esse grupo mais vulnerável. Então, a gente espera que esses resultados, além de estimular novos estudos sobre a temática, possam também contribuir para uma melhor estruturação dos serviços de assistência, de vigilância à saúde, nas comunidades que vivem próximas às áreas de mineração e potencialmente expostas também a poeira de resíduos, em todo país”, avalia.
A tragédia no município mineiro ocorreu em 25 de janeiro de 2019. O rompimento da barragem liberou uma avalanche de rejeitos que gerou grandes impactos nos municípios da bacia do Rio Paraopeba. Ao todo, foram perdidas 272 vidas, incluindo nessa conta dois bebês de mulheres que estavam grávidas.