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Saúde

Mulher é mais vulnerável a efeitos de agrotóxicos, dizem pesquisadores

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Priscilla Mazenotti - repórter da Rádio Nacional
28/10/2024 - 07:57
Brasília
Brasília (DF) 16/08/2023 - Mulheres agricultoras realizam a 7ª Marcha das Margaridas.O evento, que é feito de quatro em quatro anos, traz para a capital federal as pautas políticas das mulheres do campo, da floresta, das águas e das cidades. A última edição foi em 2019. Desta vez, o lema é
© Ricardo Stuckert / PR

As mulheres e as meninas são a parcela da população mais vulnerável aos efeitos de substâncias tóxicas que vêm da indústria, da produção extrativista e da agricultura. E esses efeitos podem durar várias gerações.

São questões como aborto espontâneo, câncer, problemas no sistema endócrino, puberdade precoce. O alerta é do relator especial da ONU sobre substâncias tóxicas e direitos humanos, Marcos Orellana.

São diversos os produtos químicos que podem trazer essas desordens. Quando se fala de Brasil, a preocupação de especialistas é, também, com os agrotóxicos. Segundo o advogado Emiliano Maldonado, somos um dos países que mais usam essas substâncias no mundo.

“Infelizmente, o Brasil é campeão mundial de agrotóxicos. Dados apontam que consumimos mais de 720 mil toneladas dessas substâncias”.

Dentre os alimentos, alguns campeões: morango, arroz, pimentão e cenoura, por exemplo. Carolina Panis, pesquisadora na área de micropoluentes, agrotóxicos fala sobre os efeitos que essas substâncias podem ter no nosso organismo.

“Quando o agrotóxico consegue entrar no nosso corpo e simular o hormônio que produzimos naturalmente, ele tá causando um super estímulo desses receptores, no momento em que eles não deveriam estar trabalhando. Então isso vai ter, sim um impacto na criança. E na mulher adulta, isso tem uma consequência muito séria, que é a ligação direta com o desenvolvimento de câncer”.

E não são só os consumidores que estão submetidos a riscos. Carolina Panis chama a atenção para outra parte da população: as mulheres que trabalham na agricultura.

“A partir do momento em que elas são agricultoras ou manipulam EPI, utensílio ou roupa contaminada com agrotóxico, ele entra pela pele, porque elas não usam nenhum tipo de proteção. E a gente estima que essas mulheres têm risco aumentando de ter câncer de mama de mais de 50%, se comparar com mulheres ocupadas com atividades urbanas”.

E qual a solução? O caminho quem aponta é o advogado Emiliano Maldonado. Um deles é o uso de bioinsumos, um processo feito a partir de microrganismos.

“São possibilidades que o conhecimento científico e o uso de outros mecanismos têm apontado no sentido que a gente não perderia a nossa produtividade agrícola, e estaria protegendo a saúde dos consumidores e consumidoras brasileiras”.

O assunto foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF). No próximo dia 5, uma audiência pública vai debater a questão econômica dos agrotóxicos, da desoneração de IPI e ICMS para essas substâncias. Mas o relator, ministro Edson Fachin, entende que o assunto ultrapassa os limites jurídicos e envolve política agrícola, meio ambiente e saúde.

 

*Com produção de Beatriz Evaristo

 

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