Entidades da sociedade civil e especialistas criticaram a operação realizada nesta quinta-feira (23) no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro, que deixou 13 mortos e três feridos.
A operação foi a mais letal deste ano e uma das dez com o maior número de mortos da história do Rio. Um dos objetivos era capturar uma das principais lideranças do tráfico de drogas do estado do Pará.
A Federação das Associações de Favelas do Estado, a Faferj, manifestou preocupação com o aumento da escalada da violência nas favelas do estado do Rio e indagou: “É preciso fechar escolas, postos de saúde e equipamentos públicos nas favelas toda vez que o Estado pretende combater o crime?”
A Federação também ressaltou que os moradores do local foram aterrorizados pela ação do Estado, considerada tão violenta quanto a daqueles que ele diz combater.
O professor da Universidade Federal Fluminense, Daniel Hirata, também membro do grupo de trabalho sobre Redução da Letalidade Policial do Conselho Nacional de Justiça, o CNJ, considera que a quantidade de pessoas mortas em operações policiais é um dos mais graves problemas de segurança pública do estado.
“Não dá para você considerar uma operação policial que termina com 13 mortes uma operação bem-sucedida. Isso é absolutamente inaceitável. Você só pode classificar uma operação deste tipo como desastrosa. O ideal é que a investigação sobre essas mortes seja feita de forma adequada para permitir ao MP fazer uma apuração adequada do que aconteceu ontem”.
O Ministério Público do estado do Rio de Janeiro disse, em nota, que seguirá acompanhando os desdobramentos da operação, no cumprimento de sua missão constitucional. Mas já recebeu a justificativa da excepcionalidade da operação, fundamentada no cumprimento de medidas judiciais cautelares. Os 50 agentes que participaram da ação foram a campo para cumprir 4 mandados de prisão e 4 de busca e apreensão. Apenas 2 suspeitos foram detidos. A Polícia Civil destacou também a apreensão de 13 fuzis.
Mas para coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, Silvia Ramos, o recolhimento das armas não pode justificar o aumento dos confrontos.
“Todos os dias nós lemos que houve confronto na favela tal, e depois de tantas horas de tiroteio a polícia matou tantas pessoas e apreendeu um, dois, ou três fuzis e etc… É esse varejo da apreensão dos fuzis que faz com que mais fuzis apreendidos, no caso do Rio de Janeiro, seja sinônimo de mais mortes pela polícia. Existiu no passado, mas é raro que a polícia do Rio de Janeiro faça apreensão de fuzis através de investigação e inteligência.”
De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública, em fevereiro, 5 pessoas foram mortas por intervenção de agentes do estado em São Gonçalo. Logo, somente os mortos na operação desta quinta-feira superam toda a soma do mês anterior em mais de 2 vezes.