O Tribunal de Contas da União tem seis processos abertos que investigam compras de equipamentos e atos administrativos feitos pelo Gabinete de Intervenção Federal na segurança pública do Rio de Janeiro. E, a investigação da Polícia Federal que deflagrou a operação Perfídia, na terça-feira, para apurar irregularidades na compra de coletes balísticos, faz parte de um deles. Só que, por determinação do presidente do TCU, o ministro Bruno Dantas, o processo passará a ser investigado separadamente. A maioria dos processos em andamento no tribunal foi aberta durante a intervenção federal.
Essa intervenção no estado do Rio ocorreu de fevereiro a dezembro de 2018, por decreto assinado pelo então presidente da República, Michel Temer, e foi para conter a onda de violência. Além de ter o controle das polícias militar e civil, o gabinete de intervenção tinha um orçamento de R$ 1,2 bilhão e fez diversas compras de equipamentos para essas instituições.
Toda a gestão do gabinete foi monitorada pelo Observatório da Intervenção. E o relatório final apontou que os recursos liberados foram altos para serem gastos em 11 meses, já que as mudanças nos índices de criminalidade não foram significativas.
A cientista social e coordenadora da Rede de Observatórios da Segurança Pública, Sílvia Ramos, destaca, inclusive, crimes traumáticos e sem solução que ocorreram durante a intervenção, como o assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes; do menino Marcus Vinícius, baleado em uma operação no complexo da Maré; e do músico Evaldo, que estava no carro com a família, e foi metralhado por mais de 80 tiros por militares do Exército.
A intervenção no Rio aconteceu de fevereiro a dezembro de 2018. Na comparação com este mesmo período de 2017, o roubo de cargas caiu 20%. A queda de homicídios foi de 6%. Já as mortes decorrentes da intervenção policial subiram 38%, e as lesões corporais seguidas de mortes aumentaram 33%.