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Saúde

Máscaras, isolamento e prudência: a experiência de brasileiros na Ásia

Brasileiros que vivem na Ásia estão preocupados com o coronavírus
Marcelo Brandão - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 27/01/2020 - 18:41
Brasília
Imagem de microscopia eletrônica de transmissão do primeiro caso isolado do coronavírus Reuters / Direitos Reservados.
© REUTERS / direitos reservados

Os últimos dias mostraram uma rápida evolução na epidemia de coronavírus, que se espalha cada vez mais pela China, pelo restante da Ásia e começa a preocupar outros países. Já são mais de 2,8 mil casos confirmados, com 81 mortes. Em Pequim, capital da China, o clima é de medo. As pessoas têm evitado sair de casa e o uso de máscaras é uma constante. A cidade já teve 72 casos confirmados.

A brasileira Rafaela Dias mora em Pequim há dois anos e estuda na Beijing Sports University. Segundo ela, a população está preocupada com o vírus, e os constantes avisos do governo na tentativa de acalmar a comunidade não têm adiantado.

“Você vê muita diferença na rua. Já não tem tantos carros nem tantas pessoas. O governo sempre manda mensagem dizendo para ninguém entrar em desespero, que eles vão resolver a situação”, disse a estudante à Agência Brasil. “Nem a poluição, que é alta aqui, faz tantas pessoas usarem máscaras. Mas, por conta do vírus, todo mundo está de máscara. É uma cena de filme mesmo. As pessoas estão com medo”, acrescentou a jovem, que também adotou a máscara como item obrigatório.

Rafaela mora na universidade, e a recomendação é que os estudantes não deixem o campus nem para comprar comida. Eles estão sendo orientados a comprar por um aplicativo de entrega de lanches e outros itens. “Foi essa a recomendação que eles deram para a gente, que era mais arriscado sair do que vir uma pessoa entregar as coisas no portão”. E, no caso de estudantes e professores que querem entrar na universidade, são realizados alguns testes rápidos para verificar a saúde dessas pessoas. Caso a pessoa tenha vindo de outra cidade, a recomendação da universidade é de isolamento total por, pelo menos, dez dias.

O governo adiou o início das aulas, e a circulação de ônibus para outras cidades está suspensa. “Para pegar o avião estão medindo a temperatura das pessoas antes de embarcar, nos trens também. E todo mundo usando máscara”, contou a estudante.

A situação de Raif Alves é diferente. O brasileiro mora e estuda em uma universidade na cidade de Hangzhou, a 1,3 mil quilômetros de Pequim, mas deixou o país em 20 de janeiro para visitar a família no Brasil. Deixou a China alheio aos perigos do vírus, que ainda crescia. Há uma semana, eram pouco mais de 200 casos confirmados. Raif tem passagem marcada para voltar à Ásia em 17 de fevereiro, mas não tem certeza se pegará esse voo.

“O meu orientador da universidade mandou mensagem dizendo para a gente se manter longe, não voltar para a universidade tão cedo. Minha passagem está para 17 de fevereiro. Dependendo de como as coisas estiverem até lá, considero alterar.”

Japoneses preocupados

O Japão registrou, até o momento, apenas quatro casos, todos na capital Tóquio. Mas nem por isso a população está indiferente. “Aqui está todo mundo bem alarmado. Qualquer início de sintoma as pessoas já ficam alarmadas. Seja um espirro, uma tosse, as pessoas acham que podem estar com o vírus”, disse Thiago Barbosa e Silva.

O governo japonês tem tomado medidas de controle na entrada de pessoas no país. “Quando você chega ao país já tem um medidor automático de temperatura. Antes de você falar com a imigração, já sabem se sua temperatura está diferente ou não”, disse.

Thiago mora em Shizuoka, a cerca de uma hora de Tóquio. Ele tem evitado multidões e sempre usa máscara, mas esteve na capital no último fim de semana. “Fiquei lá no fim de semana esquecendo que era o final de semana do Ano Novo Chinês”. Nessa data, os chineses residentes no Japão costumam se encontrar em Tóquio para as celebrações.

Ele notou diferença no comportamento das pessoas. Muitas evitavam lugares com movimento maior de turistas. E, claro, máscaras cobrindo todos os rostos. Segundo ele, alguns lojistas chegam ao ponto de proibir a entrada de chineses nos estabelecimentos. “Os donos de estabelecimentos estão proibindo na tentativa de evitar o contágio.”

Thiago, que é funcionário público no Japão, disse que as vendedoras estão preocupadas pois querem usar máscaras no trabalho e não podem. Ele explicou que as vendedoras são obrigadas a usar maquiagem, e a boa aparência delas é considerada fundamental na boa apresentação do produto.

“Os trabalhadores da área de vendas estavam reclamando que o governo não obriga o uso de máscaras. Porque, se o governo não obrigar, os donos das lojas não vão implementar o uso para não prejudicar, na visão deles, o próprio negócio.”

Jogos Olímpicos

As autoridades japonesas já começam a pensar nas consequências do coronavírus para os Jogos Olímpicos de Tóquio, que ocorrerão em julho e agosto. No dia 22 de janeiro, autoridades japonesas se reuniram na capital do país para tratar do assunto. Há a preocupação de que grandes eventos, como a Olimpíada, aumentem o risco de contágio.

Os jogos de 2016, no Rio de Janeiro, foram lembrados no encontro. Na época, havia um surto de zika, que fez com que atletas desistissem de competir. Na Copa do Mundo de Rúgbi, realizada em Tóquio no ano passado, houve uma preocupação com um potencial surto de encefalite japonesa. Agora, a preocupação é muito maior. “Como as Olimpíadas vão ser um evento muito grande, estão achando que o risco é muito maior de espalhar [o coronavírus] aqui no Japão se não encontrarem logo uma cura ou uma vacina”.