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Saúde

Banco de dados reúne informações anônimas de pacientes com covid-19

Base de dados abertos terá informações de 75 mil pacientes
Flávia Albuquerque - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 17/06/2020 - 13:49
São Paulo
O chefe do médico da UTI, Everton Padilha Gomes, examina uma radiografia de tórax de um paciente em um hospital de campo criado para tratar pacientes que sofrem da doença por coronavírus (COVID-19) em Guarulhos, São Paulo
© REUTERS / Amanda Perobelli/Proibida reprodução

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) anunciou hoje (17), na capital paulista, a criação da primeira base de dados abertos anônimos do país com informações demográficas de 75 mil pacientes de covid-19. O arquivo guardará 1,6 milhão de exames clínicos e laboratoriais e 6.500 dados de desfecho de pacientes para subsidiar pesquisas científicas sobre o novo coronavírus, que serão compartilhados com pesquisadores de universidades e outras instituições. O banco de dados, denominado Covid-19 Data Sharing/BR, foi criado em colaboração com a Universidade de São Paulo (USP), o Grupo Fleury e os hospitais Sírio-Libanês e Israelita Albert Einstein.

De acordo com o diretor científico da Fapesp, Luiz Eugênio Mello, a ideia é subsidiar a pesquisa científica sobre a doença. A criação da plataforma é uma iniciativa de fazer o que tem sido a tônica do desenvolvimento da ciência nas últimas décadas - a abertura dos dados gerados por instituições públicas de pesquisa para a sociedade, sem a necessidade de assinar uma publicação.

"Neste caso, estamos falando de informações que não foram geradas pelo sistema público. Começamos com três instituições privadas e são informações que, se não fosse mediante essa iniciativa, permaneceriam nos repositórios das organizações. A ideia é, lançando mão de uma plataforma que já existia na USP, compartilhar dados que não seriam disponibilizados de outra forma para mobilizar cientistas de maneira que consigamos contribuir para novos entendimentos da atual epidemia", disse.

Segundo Mello, uma plataforma nesses moldes demora anos para ser construída, mas, no caso desta, os dados foram inseridos em tempo recorde devido à existência da estrutura e do investimento. "O que resultou de relevante foi o estabelecimento dos vínculos de confiança entre os fundadores da iniciativa. A função central da Fapesp é servir como catalisador desse trabalho. O custo da obtenção dos dados já foi pago pelos pacientes que fizeram os exames, e o que estamos fazendo é, de forma anônima, compartilhar esse conjunto de informações".

O pró-reitor de Pesquisa da USP, Sylvio Canuto, destacou que o trabalho é um grande passo na luta contra a covid-19, já que a situação mostra a necessidade do compartilhamento de dados científicos. "O projeto já está funcionando na USP e permite usar as informações de forma sustentável. Este é um instrumento que será perene", afirmou Canuto.

O diretor executivo do Grupo Fleury, o médico Edgar Rizzatti, disse que desde o inicio da pandemia pesquisadores e centros de estudo têm sido procurados por startups, com interesse na disponibilização de dados de pacientes de covid-19, para desenvolvimento de projetos e estratégias em ciência de dados e algoritmos de inteligência artificial. "Por isso, acredito que essa iniciativa pioneira vai trazer grande benefício para a comunidade científica e vai permitir que tenhamos melhor entendimento da doença em nosso meio, o que trará importante contribuição à sociedade".

Para o diretor de ensino e pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, Luiz Fernando Lima Reis, a relevância da iniciativa pode ser caracterizada pelo compromisso das instituições na solução da pandemia e na melhoria do cuidado assistencial aos pacientes. "A resposta sempre veio da ciência e a legitimidade da Fapesp em promover  a ciência dá a garantia do propósito do projeto. Não teremos soluções fora da ciência não pautadas pela melhor geração do conhecimento, e é nesse sentido que nos juntamos à Fapesp nesse desafio".

Na avaliação do diretor-superintendente do Hospital Israelita Albert Einstein, Luiz Vicente Rizzo, a única maneira de fazer pesquisa boa é em colaboração. "O conhecimento é o maior inimigo da doença e a preocupação é com os pacientes, com o conhecimento, trazendo soluções para a vida das pessoas e não só para a covid-19, porque esse banco de dados poderá ser aproveitado em diversas outras atividades".

O banco conterá dados anônimos dos pacientes que fizeram exame, estiveram internados e a descrição da evolução clínica do quadro de saúde. Posteriormente serão adicionados exames de imagem. Os dados poderão ser verificados por analistas, que darão sugestões para melhorar a plataforma.

Mais informações podem ser consultadas no banco de dados