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Esculturas de gelo integram a mostra Monumento Mínimo em São Paulo

A mostra traz 60 esculturas em gelo que já foram reproduzidas, nos
Fernanda Cruz - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 07/01/2017 - 14:15
São Paulo

Os monumentos, na concepção da artista mineira Néle Azevedo, são muito diferentes daquelas construções e esculturas históricas. São figuras pequenas, de apenas 20 centímetros, e sem rosto. Homenageiam homens e mulheres anônimos, sentados no chão. E são efêmeras: derretem logo, já que foram esculpidas em gelo.

“O monumento oficial é feito para a eternidade e fiz para desaparecer. Então, é o anti-monumento”, explica Néle, autora da exposição Monumento Mínimo: Arte com Emergência, em cartaz na Oficina Cultural Oswald de Andrade, na capital paulista.

A mostra traz 60 esculturas em gelo que já foram reproduzidas, nos últimos 10 anos, em lugares como Birmingham (Inglaterra), Paris (França), Berlim (Alemanha), Florença (Itália), Stavanger (Noruega), São Paulo (Brasil), Santiago (Chile) e Lima (Peru). A artista fez intervenções em lugares públicos, onde o gelo derrete em 35 minutos.

Na atual exposição, Néle experimentou, pela primeira vez, deixar suas obras refrigeradas em um freezer. “As esculturas vão desaparecendo, porque o sistema de refrigeração tira a água do gelo e vai formatando, delineado, as esculturas, como acontece na rua, só que não deixa vestígios. [As esculturas] vão desaparecendo dentro do freezer”, explica.

A ideia da desconstrução de monumentos foi concebida durante a sua tese de mestrado, na Universidade Estadual Paulista (Unesp). “A primeira coisa que quebrei no monumento foi a escala. O monumento, que é grande, ligado diretamente ao poder, eu quebrei, fiz uma coisa bem pequenininha. Do sujeito na cidade, fiquei pesquisando materiais que dessem suporte poético para o que eu estava buscando”, conta.

Escultura de sangue

Uma das figuras da mostra foi esculpida com o sangue congelado de Néle, para demonstrar o seu descontentamento com o atual momento político no Brasil e no mundo. “Há uma perspectiva muito sombria. Achei que precisava usar o meu sangue, porque eu não tinha palavras suficientes para falar disso”, contou.

Foi tudo desmontando, os ódios aumentando, é muito triste de se ver, porque eu cresci em direção à abertura. A minha experiência de vida foi ver a ditadura abrir o horizonte em direção aos direitos humanos. Eu não sabia que a história se repetia desse jeito, esse fechamento em relação à liberdade humana”, declarou Néle.

O engajamento político da artista é notado na primeira sala da exposição, com a intervenção do arquiteto e artista Luis Felipe Abbud. Como as esculturas de gelo estão ligada à memória e monumento, Néle quis contrapor aos monumentos oficiais da ditadura na capital paulista, bem próximos ao local da exposição.

A exposição pode ser vista até o dia 28 deste mês, na Oficina Cultural Oswald de Andrade – Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro (segunda a sexta-feira das 10h às 20h30 e sábados das 10h às 18h). No último dia da mostra, a artista pretende filmar o descongelamento das esculturas.